Minha filha e muitos outros
jovens com os quais convivo diariamente ficaram um tanto quanto desapontados porque
acharam que a grande maioria estava na manifestação, em Recife, como se
estivesse numa festa. Outros alunos que aproveitaram a ocasião para realizar
uma experiência de produção de radio dentro da própria manifestação também experimentaram o mesmo sentimento. Mas nenhum
deles reclamou porque participou. Considerei positiva a atitude dos jovens.
Pior é permanecer preguiçosamente sentado sem se dar conta do presente e ficar
criticando quem participou.
Muitas questões e interpretações envolvem
o momento político, a cobertura viciada
da mídia, o papel das redes sociais, a falta de foco, as características intrínsecas
das multidões, a esperteza dos partidos políticos, os desdobramentos, os
desvios, a falta de lideranças, o vandalismo infiltrado, entre outros elementos dos quais se podem
tirar uma lição ou uma compreensão sobre o que acontece. Mas não é nosso propósito discutir as questões
mais amplas no contexto nacional.
Prefiro refletir sobre o que
representa para IP uma manifestação dessa natureza. A situação é no mínimo curiosa e merece ser
olhada alem da politicagem varejista que inunda o nosso município de um ranço
eleitoreiro que resiste a qualquer abertura para mudanças e que não deixa as
pessoas descerem do palanque imaginário no
qual se locupletam de várias maneiras concretas, entre elas o empreguismo, as relações de
compadrio, a troca de favores. Essa
estreiteza do olhar no qual até as cores
são vistas como incompatíveis não podem contaminar as manifestações. Seria
ingenuidade imaginar que as questões políticas não passam pelos partidos políticos
assim como seria uma insensibilidade democrática proibir que os partidos marquem sua presença.
Na minha modesta compreensão, isto quer dizer que eles apoiam a luta que nasce
na insatisfação popular. Qual o problema? Podemos lutar pela democracia
excluindo entidades, organizações, instituições ou qualquer outra forma de agregação
de uma sociedade minimamente organizada? Daí a permitir a manipulação deslavada há um
caminho a percorrer. Prefiro ver esse matiz de uma forma positiva. Pelo que
tenho visto no face, IP renega a paleta de cores com que a natureza nos
presenteia. As cores podem até não combinarem mas elas existem e se há uma
iniciativa popular não vejo porque discriminar a participação em função das
diferenças das cores das bandeiras dos partidos. PelamordeDeus, não é hora pra isso.
O mais interessante é perceber que mesmo copiando por puro
modismo– se esta é a critica – a iniciativa surgiu fora dos grupos hegemônicos da
política local. E isso dói. Ah! Como dói reconhecer a presença da periferia!
Incomoda, irrita, chateia. Anuncia quem tem mais alguém que acredita que a
democracia lhe permite o direito de se manifestar, que é preciso encontrar um
espaço de dialogo. Querendo ou não. Gostando ou não. Há novos parceiros no ar. É insano acreditar
que somos assim e seguiremos assim porque esta é a cultura local. Tolice. A cultura não aprisiona.
Quem aprisiona é a ignorância.
Para sair da ignorância é preciso investir na educação. Foi
a educação que nos permitiu abrir esta brecha, esta fresta, este arejamento no
meio da aridez política local que tal como a seca não fertiliza solos, não alimenta
a alma nem faz a vida mais leve.
ML
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