quinta-feira, 20 de junho de 2013

A CORRUPÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Por Renato Pompeu

Quando acusamos os parlamentares de corrupção, nem sempre lembramos que o Congresso é um espelho da sociedade, pois afinal foi eleito por todos nós, que constituímos a sociedade. Todos nós, costumamos em nosso cotidiano praticar, quase sem pensar. Pequenas ações inadequadas que redundam em maior ou menos prejuízo ao bem comum e que, a rigor, poderiam ser classificados como atos de corrupção.


Quem, dentre nós, jamais arriscou, por exemplo, um fezinha no jogo do bicho, ou jamais participou de uma rifa não registrada, ou dum poquerzinho inocente, mas nem tanto. Pois a dinheiro – tudo isso devidamente proibido a particulares, pois em nossa sociedade os jogos de azar com prêmios em dinheiro, como a Mega Sena, são monopólios do Estado?

Para exigir honestidade dos nossos representantes no Legislativo, nem nós, nem os médicos, os dentistas, os engenheiros, os arquitetos e os advogados deveríamos perguntar se queremos pagamento com ou sem recibo, isto é com preço maior ou menos conforme se paga o imposto de renda. Agindo assim criando um caixa 2 particular, que moral temos para exigir que todos os eleitores sejam “ficha limpa”?

E mais: até que ponto podemos garantir que nunca ultrapassamos o sinal vermelho, mesmo porque isso é até mesmo recomendado por altas autoridades, por exemplo, em cruzamentos “arriscados” alta madrugada? E alguém pode afirmar, sob juramento, sem incorrer em perjúrio, que nunca ultrapassou a velocidade máxima permitida, sem que o tenha feito por motivos de vida ou morte, o mais das vezes simplesmente por alta recreação?


Os “fura-filas” e a contramão


Não deixemos de incluir aqui os ímpetos que sentimos de furar a fila nos bancos, o que efetivamente fazemos às vezes. Também costumamos pedir para funcionário dar um “jeitinho” quando há alguma irregularidade em nossos pedidos, em nossa ações ou em nossos documentos. Isso acontece muito particularmente em casos de irregularidade no trânsito mas especificamente em casos de multas por estacionamento em local proibido.

Confessemos que às vezes até mesmo cogitamos de “molhar a mão” do funcionário para alcançar o chamado “jeitinho”, umidade manual oficialmente proclamada como “despesas necessárias para a execução do procedimento em tela”. E também quantas vezes não tentamos ultrapassar carros pela sua direita? Nunca pegamos o famoso “trechinho” na contramão para evitar dar um grande volta “desnecessária”? Não usamos o computador ou mesmo uma simples caneta fornecida pelo nosso empregador para fins nossos particulares durante expediente? Não levamos essa mesma caneta para casa, como se fosse de nossa propriedade? Não usamos o telefone da empresa ou de algum amigo, conhecido ou parente nosso, para fazer negócios em que ganhamos dinheiro, sem que remuneremos com parte disso quem está pagando a conta do telefones?

Nunca, mas nunca mesmo, nos recusamos a pagar a anuidade do túmulo de família que está em nosso nome, sob o pretexto de que quem está enterrado lá não são parentes nossos de sangue e de que os seus parentes de sangue é que deveriam pagar?

O chorinho e a “saideira”

O chorinho que pedimos para o garção colocar no nosso copo não é, afinal de contas. Uma forma de suborno? Sem contar que o próprio garção só acede ao chorinho porque espera com isso receber uma gorjeta mais generosa. Tanto assim é que tanto maior é o chorinho quanto maior seja a intimidade pregressa entre o freguês e o garção. Deveríamos aqui incluir os apelos para que nos seja servida. De graça, a “saideira”.

Em muitas cidades do país as posturas municipais proíbem, por exemplo, pôr roupas para secar em lugares que sejam visíveis da rua. Como as janelas ou fachadas, ou os chamados jardins. Quem obedece a isso?

Quem sempre lava os dejetos lançados na rua por seus pets? Se sei que muitos tomam cuidados com os dejetos sólidos desses queridos animais de estimação, mais, nunca, em tempo algum vi ou ouvi falar que alguém tenha lavado e desinfetado um poste urinado pelo nosso queridinho cãozinho ou nosso estimado canzarrão.

E aqui entre nós, não sentimos às vezes preguiça de caminhar até a faixa de pedestres e não atravessamos a rua diretamente de onde estamos para diretamente ir aonde queremos, ao invés de caminha até a faixa, atravessar, e voltar para outra calçada par onde queríamos ir?

Nossas declarações de renda obedecem rigorosamente às realidades de nossas rendas e de nossos gastos isentáveis? Quando temos certeza de que fontes pagadoras não vão de jeito nenhum declarar ao fisco o que pagaram para nós, não nos vem a coceirinha de, de nossa parte, também não declarar essas rendas? Declaramos valor de mercado dos bens de nossa propriedade?

Se praticamos a todas essas pequenas irregularidades, como podemos garantir que, se tivermos oportunidade de obter dinheiro grosso, vamos resistir à corrupção? Devemos usar como lema o ditado: “Ou haja moralidade, ou nos locupletemos todos”?

De todo modo, acima de tudo, não devemos ser como Demóstenes Torres, arauto anticorrupção por fora – e totalmente corrompido por dentro. 

* Revista Caros Amigos Especial, nº. 62
Fonte: http://bogdopaulinho.blogspot.com.br/

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