(Janio de Freitas)
Manifestações como as atuais ficam sujeitas à classificação de ato de terrorismo, na definição desse crime proposta pelo relator Romero Jucá na comissão especial do Congresso que prioriza a legislação da segurança em vista dos eventos esperados no Brasil.
Há duas barbaridades nessa concepção, que retorna ao conceito praticado pela
ditadura - embora, a bem da verdade, lançado pelo "Jornal do Brasil" para alegria
dos militares, que o viram adotado por todos os meios de comunicação como
fundamental para a propaganda contra a oposição.
Do ponto de vista técnico, a essência do terrorismo é o propósito de
aterrorizar, antes de quaisquer outros, como o nome já indica. Não é esse o
propósito de manifestações de protesto ou de reivindicação. Nem da chamada
criminalidade urbana, à maneira da que se agravou em São Paulo com o objetivo de
roubo ou, nas chacinas, de disputas criminais.
A surpresa -do ato, do alvo ou do modo- é fundamental na técnica do
terrorismo. O que confunde, por exemplo, arrastões e assaltos com atos
terroristas. Mas nem essa confusão tem vez no caso das manifestações de
reivindicação (como o Movimento dos Sem-Terra) ou de protesto, que são públicas
por definição.
Sub-relator, o deputado Miro Teixeira discordou de parte do relatório e, com
isso, forçou o adiamento da votação. É o trecho em que atos geradores de pânico
ou terror se tornariam terrorismo por haver, de fato ou por circunstâncias,
"motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico".
Outra vez, manifestações como as atuais se tornariam atos terroristas. São
manifestações que se contrapõem ao governo estadual e à administração municipal,
e já por isso são atos políticos. E, na prática, também reflexos ideológicos, no
mínimo. Os atos públicos coletivos que escapariam dessa condição não seriam
muitos.
Do ponto de vista político, portanto, a proposta do senador Romero Jucá é
nitidamente incompatível com os direitos de expressão e da cidadania assegurados
pela Constituição. E, mesmo que só por descuido, presta inaceitável homenagem à
memória da ditadura militar.
CRÉDITOS
Se adotado no Brasil o conceito, agora aprovado no Equador, de "linchamento
midiático" contra informações em meios de comunicação com o propósito de
desacreditar empresas ou pessoas, Eike Batista e Daniel Dantas multiplicariam
seus patrimônios graças às indenizações. E alguns outros enriqueceriam.
SERIEDADE
O senador Aloysio Nunes Ferreira diz que "a polícia de São Paulo é a mais bem
preparada do Brasil". De onde tirou tal afirmação? Ah, sim, da onda de crimes
que perpassa a vida paulista e da habilidade técnica com que a PM de São Paulo
atacou manifestantes civis, desarmados e em passeata pacífica. Ou pessoas que
nem eram manifestantes.
PARA PENSAR
Escrevo antes de poder comentar as passeatas de ontem. Mas não antes de poder
sugerir que comecemos reflexões mais complexas sobre o que está acontecendo. É
muito, muito menos simples, como expressão atual e como perspectiva, do que se
tem dito.
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