(publicado em 6 de dezembro de 2012 às 13:27)
Construção de Brasília
Quando cheguei lá no fim do mundo, a terra era agreste, hostil, não tinha árvore, não tinha nada. Na época, o divertimento era a Cidade Livre. Tomávamos caipirinha, ríamos. Todos trabalhando juntos — operários, engenheiros, arquitetos –, dava a sensação de que o mundo seria melhor. Quando inaugurou, veio a muralha separando pobres e ricos — e Brasília passou a ser uma cidade como as outras. Por quatro anos andamos na estrada que estavam construindo. Pegávamos o carro a qualquer hora. Tive um desastre, fiquei um mês machucado e quase morri. O avião que ia para Brasília levava três horas. Na primeira viagem do Juscelino, fui junto. Lembro de sentar ao lado do Lott [general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra de Kubitschek]. Ele disse: “Dr. Niemeyer, o senhor vai projetar prédios bem clássicos para nós, não é?”. Eu respondi: “General, o senhor, na guerra, prefere arma clássica ou moderna?”.
Beleza e praticidade
Acho que o prédio deve ser correto. Mas para chegar a ser uma obra de arte, ele tem de ser bonito. E, para ser bonito, tem de ser diferente, porque arte está ligada à invenção. Agora, às vezes querem criticar e dizem: “É, é bonito, mas não funciona bem”. A gente sabe que é a mediocridade querendo se defender. Hoje a gente não pode dizer que o Memorial [da América Latina] é ruim. Dizem: “A praça podia ter árvores”. É por sacanagem, porque sabem que na França, na Itália tem praças sem nada. O povo não se informa e se deixa levar pela ideia de que parece estacionamento. Se fosse assim, praças da Europa também poderiam ser estacionamento. É o abrigo do homem. Serve para ele trabalhar, viver. A ideia é fazer algo bonito. Beleza sempre cercou o homem. Nosso ancestral mais antigo pintava as cavernas. A leveza é encontrada em qualquer objeto, não é uma coisa que eu inventei. A ideia é simplificar, reduzir. Na arquitetura é isso também.
Arquitetura soviética
Estive na União Soviética no stalinismo. Quando ia sair da cidade [Moscou], a direção da escola de arquitetura me perguntou: “Que acha da arquitetura soviética?”. Eu disse: “Estou com vocês na política, mas, nesse ponto, não tenho argumentos para defender o que fazem”.
Luiz Carlos Prestes
Eu o conheci quando acomodei no escritório uns 15 comunistas que tinham saído da prisão. Eu o conheci e, 15 dias depois, entreguei a minha casa para ele e disse: “Fique com a casa, que seu trabalho é mais importante”. Às vezes, um cliente reacionário telefonava, e eu respondia: Partido Comunista Brasileiro. O sujeito tomava um susto.
Comunismo
Sou comunista, nunca achei que tivesse acabado. É uma ideia justa, estou velho demais para mudar de ideia. O que ocorreu na União Soviética em 70 anos foi uma evolução fantástica. Transformaram um país de mujiques em potência mundial. Eles foram à Lua, ajudaram todos os povos em libertação. Apoiaram todos os partidos políticos. Impediram que Cuba fosse invadida. Eles não se preocuparam economicamente, e a coisa falhou.
Crise do socialismo
O que eu penso é que o ser humano não estava preparado. Quando a gente fala em uma sociedade melhor, justa, em que todos se compreendem, tudo pede que o ser humano esteja disposto. Cuba, por exemplo, está cercada, é o cerco mais horrível da história, e o povo está lá resistindo. É porque eles seguem o exemplo de Fidel. Uma mudança para melhor vai acontecer quando o homem compreender que é fruto da natureza. Que é um bicho, que nasce e morre. Quando eu faço um projeto, fico quebrando a cabeça e procuro lutar por ele, mas, no fundo, quando fico sozinho, sei que não tem importância. Como essa conversa agora: aqui, um dia, não vai ter mais ninguém também. Penso que tanto faz ser feliz ou infeliz, a vida é um sopro, um minuto.
Fonte: http://www.viomundo.com.br/
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