por Carla Hilário Quevedo
Rita Hayworth
... os tempos não têm estado favoráveis a acordar assim. Se pudesse escolher, hibernava até 2014, mas não posso. A piada é esta: não temos outro remédio a não ser acordar todos os dias, ouvir conversas que não nos agradam, lidar com pessoas que não nos interessam, suportar os discursos mais tolos e absurdos. The joke is on us. A nossa crise também está na maneira como exprimimos o nosso desapontamento. Há quem vá berrar para manifestações e há os que se fecham ao mundo. Entre os dois tipos de desencantados estão aqueles que vêem no Rip Van Winkle um modelo a seguir. Lembrei-me, a propósito disto, de uma ideia de Alain de Botton, que deu uma palestra na Fundação Champalimaud. O homem disse tantas coisas interessantes, que não se esgotam numa ou mesmo em duas crónicas. Falou da nossa relação com os animais de uma maneira diferente da habitual. A ideia caricaturada sobre aqueles que gostam de animais é a de que desistiram dos humanos. São pessimistas, carrancudos e apáticos no sentido não estóico do termo. São pessoas um bocado malucas, enfim. A proposta de Alain de Botton é outra. Num mundo cada vez mais individualista e egocêntrico, os animais devolvem-nos a lembrança da nossa pouca importância no universo. Os animais, tal como os bebés e as crianças pequenas, aliás, não nos prestam atenção, nem nos dão realmente nada. Só nos devolvem o descanso de que precisamos: o descanso de nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário