Com Lula e Rose, mídia quebra um tabu
Inaugura-se uma nova etapa no tratamento da mídia sobre casos extra-conjugais de políticos; ou a exceção para a quebra de um protocolo que valeu oito anos para Fernando Henrique e a jornalista Miriam Dutra, da Rede Globo, só está acontecendo porque não envolve o príncipe dos sociólogos mas o operário que era chamado de baiano?
Entre os anos de 1995 e 2003, quando governava o Brasil o príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, um dos segredos de polichinelo mais bem guardados do, digamos, Reino do Brasil era o antigo relacionamento extra-conjugal que o soberano mantinha com a jornalista Miriam Dutra, da Rede Globo. Com ela compartilhava, dizia-se à boca pequena, sem medo de errar, um filho. Todo o pavor do governante residia na revelação da relação, especialmente na emissora em que ela trabalhava, o que fez dele, na rudimentar geopolítica da corte, refém daquele e de outros grandes meios de comunicação. Com a não revelação do caso, FH ficou na posição de devedor de um favor para empresas como a Organizações Globo, que jamais conheceram tempos de vacas magras em sua governo. Nenhum dos espetaculares jornalistas da atual geração, esses sensacionais editores, colunistas e repórteres políticos que buscam incessantemente a verdade jamais escreveu uma linha ao menos sobre aquela situação da qual todos tinham conhecimento. O maior pool do mundo. Talvez fosse demolidor para Fernando Henrique ser pego na chamada vida dupla. Talvez nem fosse, mas o certo é que, durante seu principado, nada foi dito – e o que foi, também foi devidamente abafado. Criou-se uma relação de cumplicidade de mão dupla entre a grande mídia e o presidente. São felizes até hoje.
Agora é diferente. Não se se trata de um prícipe, mas, ao contrário, do velho e sempre disponível nessas horas sapo barbudo. E sem rodeios, patrocinando uma quebra de tabu secular na midia brasileira, Lula foi envolvido com sua "amante", como disse Augusto Nunes, "amiga íntima", na expressão da Folha de S. Paulo, e "mulher", como a própria Rose Noronha teria se apresentado no passado, segundo a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Mal se pensou duas vezes antes de se escancarar, em coro crescente, a informação. Claro, afinal, todos estão aqui para contar a verdade, apesar de todas as lacunas do passado.
Barões, cardeais, bispos e até coroinhas da mídia se unem neste momento em torno do mesmo julgamento moral ao ex-presidente. O tratamento jornalístico que vai sendo dado à atuação de Rose no escritório da Presidência da Repúblia já deriva para chafurdar a cara de Lula nessa lama o mais profundamente possível. Nenhum fato, um mísero sequer, apareceu até aqui para comprometer o ex-presidente com as reinações da, digamos, segunda dama, que é como ela se comportava, mas importa que exista a relação pessoal e esta logo se transporte para a esfera política. Quanto tempo vai durar a sangria, não se sabe. Mas tem tudo para ser longa, assim como são todos os banquetes com as vísceras de petistas para os vampiros midiáticos. Ainda mais sendo agora a do próprio Lula.
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