Gente de Ipaumirim. Vida de Ipaumirim. Tempos de Ipaumirim. Alagoinha... Ipaumirim...... memória..... raízes... atualidades....... por novos tempos..... novos olhares...... espaço aberto a todos......
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Perdoa-me
Curta metragem
Numa noite como tantas outras nas ruas iluminadas da
cidade do Porto, Agostinho, um sem-abrigo vai-se aguentando, relembrando todos
os dias aquilo que perdeu, por uma razão desconhecida.
Nesta noite encontra uma oportunidade de fazer algo diferente e importante para tentar mudar a sua vida e arranja uma forma original de pedir perdão e reaver o que perdeu.
Nesta noite encontra uma oportunidade de fazer algo diferente e importante para tentar mudar a sua vida e arranja uma forma original de pedir perdão e reaver o que perdeu.
Argumento: André Dias
Realização e Produção: André Dias e Joana Silva
Actores: Agostinho Magalhães, Karina May, Raquel Carvalho
e Daniela Silva
Agradecimentos: Jorge Rocha, Henrique Fernandes e Cristina
Lemos.
domingo, 29 de abril de 2012
Álbum da semana
Gerlane Lemos
Jarismar Gonçalves e filhas
Edmilson (Jia)
Zé Lúcio
Expedito Dantas Moreira Bisneto
Bosco Macedo, Célia e amigos
Maria da Paz e filhas
Sebastão Filho e Maiara
Boaventura, filho Normando e neto Alexandre
Vivendo e aprendendo
28/04/2012
A ALIANÇA DO PACÍFICO E A NOVA ESTRATÉGIA NEOCOLONIAL
Com a queda do muro de Berlim, vicejou a teoria, em meio a certos “pensadores” ocidentais – festejada e divulgada por diferentes grupos de comunicação - de que chegáramos ao “fim da história”, com a imposição definitiva do ideário neoliberal em um novo mundo, de permanente “Pax Americana”. Nesse período, que durou até a chegada do novo milênio, o Ocidente achou que poderia redividir o planeta e a Espanha alimentou, baseada em sua súbita e artificial prosperidade, o sonho neocolonial de promover nova reconquista no espaço geopolítico latino-americano.
Para
isso, a diplomacia e os ”think-tanks” espanhóis resgataram até mesmo um velho
termo, a “Íbero-américa”, um continente mítico que, começando nos Pirineus,
chegaria até a Terra do Fogo, englobando a Espanha, Portugal, México, a América
Central, e todos os países da América do Sul, até os limites do Estreito de
Magalhães.
Transformados,
de repente, em novos-ricos – esquecendo-se de que sua qualidade de vida assim
como o relativo poder de suas empresas advinha de bilhões de euros em ajuda da
União Européia para o desenvolvimento, repassada pela França e a Alemanha; e de
dinheiro barato, a juros baixíssimos, emprestado a seus bancos pelo Banco
Central Europeu - a Corte, os banqueiros, os políticos neo-liberais espanhóis e
os aventureiros de ocasião se lançaram, com o ânimo de um Cortez, ao saqueio da
América Latina.
O
estrangulamento da maioria dos nossos países pela inflação – e por dívidas
questionáveis -, e a ausência de iguais condições de acesso a crédito farto e
barato por parte do nosso empresariado levou ao maior processo de
desnacionalização da história.
Um
processo que foi trágico para a iniciativa privada, com a entrega de empresas
centenárias e de sua tecnologia para estrangeiros como aconteceu com a Metal
Leve, do saudoso José Mindlin, por exemplo. Mas que foi muito pior, e
particularmente nefasto, no setor público, no qual novos cruzados ibéricos como
Emilio Botin, do Santander, Antonio Brufau, da Repsol, Cesar Alierta, da
Telefónica e oportunistas como Gregorio Marin Preciado – alguns deles hoje
investigados por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro - contaram com a
abjeta e interessada cumplicidade dos colaboracionistas de sempre para o
desmonte, esquartejamento e desnacionalização do patrimônio nacional e dos
nossos ativos estratégicos.
No
Brasil, está provado, hoje, que os excitados seguidores do Consenso de
Washington gastaram mais dinheiro (engordando as galinhas para a entrega às
raposas durante a “preparação” das estatais para a privatização) do que
arrecadaram, para o Tesouro, com os leilões dessas
privatizações.
Alegou-se
à época, que seria abatida a dívida pública, mas a relação dívida/PIB
praticamente dobrou em oito anos. Foi dito que o preço das tarifas ia diminuir
para o consumidor, mas em telefonia ou banda larga, por exemplo, pagamos,
segundo instituições internacionais, as mais altas faturas do mundo. Isso sem
falar, em primeiro lugar, da péssima qualidade dos serviços - que já levou à
proibição da venda do Speedy da Telefónica em São Paulo durante algum tempo.
Quem
quiser confirmar o extravagante e nocivo conteúdo da Lei Geral de
Telecomunicações - aprovada no governo FHC e voltada para penalizar o tempo todo
o consumidor - que se informe na ANATEL, ou tente resolver algum problema – por
telefone -com a sua operadora. A Lei prevê até mesmo orelhões que não “precisam”
completar chamadas interurbanas. E nem é necessário falar da propalada
universalidade de acesso à telefonia e à internet. Quem mora no interior, que se
habilite.
Outro
argumento da época era o da existência de “cabides de emprego” nas estatais.
Neste quesito, basta lembrar que Antonio Carlos Valente, Presidente da Vivo no
Brasil, foi um dos homens que comandou, desde o início, a privatização da
telefonia em nosso país, e um dos primeiros conselheiros da ANATEL - criada
justamente para fiscalizar seus futuros patrões. E que o genro do Rei da Espanha
- que, como entendido em telecomunicações é um excelente jogador de polo -
encontra-se “pendurado no cabide” no Conselho da Telefónica do Brasil, ganhando,
há muito tempo, dezenas de milhares de euros por ano.
A
farra privada com as estatais foi tão grande, e os ganhos tão fartos, que
Francisco Luzón, o “executivo” do Santander que comandou o processo de aquisição
do BANESPA, aposentou-se há poucos meses, levando para casa, como recompensa por
seu trabalho na América Latina, uma gratificação de 70 milhões de euros, ou a
módica quantia de 175 milhões de reais.
Na
telefonia, no petróleo, no sistema financeiro, a tática espanhola é investir o
mínimo e levar o máximo de lucro para a Europa. Se for preciso colocar dinheiro,
que outros o façam, como ocorreu com Santander Brasil, que quando precisou
levantou dinheiro no nosso próprio mercado com uma OPA : e com a Repsol do
Brasil que vendeu parte do capital para a SINOPEC chinesa.
Precisou
de recursos para cumprir sua obrigação: investir em expansão da infraestrutura,
por exemplo? Pegue-se com o BNDES, a juros subsidiados, como aconteceu como a
Vivo no ano passado que recebeu do nosso principal banco de fomento três bilhões
de reais emprestados. Sem deixar, nem por um momento, de enviar, para a matriz,
suas remessas de lucro de bilhões de euros por ano.
Pois
é, como dizem os italianos, tanto trovejou, que chove. A Argentina se cansou do
descaramento das empresas espanholas. Transformada - graças às privatizações -
de nação produtora em país importador de petróleo, resolveu retomar o controle
da YPF, Yacimientos Petroliferos Fiscales, desnacionalizada no governo
neoliberal de Carlos Saul Menem.
O
de Cristina Kirchner interveio na empresa na semana passada, destituindo os
“executivos” espanhóis da Repsol e trocou a segurança do prédio. Os bons moços,
como abutres, “secaram” os poços que encontraram funcionando quando compraram a
empresa, mandando os lucros para o exterior, sem arriscar um centavo de peso
para explorar novas reservas.
Com
um risco-país de quase 500 pontos, o povo espanhol se encontra acossado pela
desastrada situação em que o meteu a incompetência de sua elite dirigente. Mesmo
assim, a direita conseguiu se eleger, usando a xenofobia para colocar a culpa
não nos banqueiros, mas na imigração. E trata de ir, agora, ainda mais fundo
contra os cidadãos, retirando e ”flexibilizando” os direitos dos trabalhadores,
na saúde, na educação e no trabalho.
O
Governo do Primeiro-Ministro Mariano Rajoy - como o rato que ruge – ameaçou agir
com “contundência” e afirmou que a decisão da Presidente Cristina Kirchner
acarretará para a Argentina, “duras consequências”.
Como
a Itália, no caso Battisti, a Espanha pediu ajuda da Comunidade Econômica
Européia, que - com exceção de algumas declarações protocolares – lavou as mãos
e disse que não existem tratados que lhe permitam interferir no assunto, que
deve ser visto como uma questão bilateral. A mídia ocidental exerceu - com
alguns de seus representantes locais - seu direito de espernear. Em visita ao
Brasil, Hillary Clinton afirmou que a Argentina deve "justificar e assumir sua
decisão" e, coerente com a cantilena - tão desfiada e tão praticada pelos EUA -
de defesa do "livre mercado, lembrou que em energia e commodities a liberdade é
o melhor modelo de concorrência e de acesso aos mercado.
A
Espanha, no entanto, ficou decepcionada. Seu Ministro de Relações Exteriores
disse que esperava mais de seu "aliado" norte-americano, ao qual seu país tem
sido tão subserviente nos últimos anos, participando, entre outras coisas, de
operações militares na Líbia e da guerra do Afeganistão. E acabou reconhecendo o
fato de que os Estados Unidos, atualmente, "têm seus próprios interesses na
Argentina."
Com
23% de desemprego, um alto déficit em suas contas públicas, que a UE já
reconheceu que o país não conseguirá diminuir antes de 2017; uma dívida externa
de 165% do PIB (ado Brasil, por exemplo, é de 13%); 80% de dívida interna
líquida (a do Brasil é de 39%) e cerca de 35 bilhões de dólares em reservas
internacionais (as do Brasil são de mais de 10 vezes mais, ou 372 bilhões de
dólares); o governo espanhol está aproveitando o episódio da Repsol para tentar
desviar a atenção da opinião pública da crua realidade desses números.
Os
jornais tem apresentado, em seus editoriais, e na cobertura do fato, a
expropriação da empresa petrolífera como um insulto, uma traição à Espanha.
Assim como aconteceu no caso da adoção de medidas de reciprocidade - para a
entrada de cidadãos espanhóis no Brasil - por parte das autoridades brasileiras,
agora, na rede, grande número de internautas espanhóis prega que as empresas
espanholas demitam os seus empregados argentinos na Espanha. Alguns, também a
exemplo do conflito diplomático com o Brasil, exigem que se promova a expulsão
pura e simples de todos os imigrantes argentinos que vivem naquele país,
esquecendo-se da solidariedade argentina no século XX, e do fato de que mais
espanhóis vivem hoje na Argentina, do que argentinos na terra de Cervantes. Em
compensação, uma minoria se pergunta, ironicamente, quantos acionistas da Repsol
há entre os que estão defendendo a empresa nos fórums dos jornais e nas redes
sociais. Lembram que a Repsol, há muito, já não pertence ao povo ou a capitais
majoritariamente espanhóis; que no seu capital há participação chinesa; de
fundos de investimento dos Estados Unidos; e de "investidores" que enriqueceram,
de forma suspeita, nos "anos dourados" da entrada da Espanha na UE - e que
também são responsáveis pela crise em que se encontra mergulhado o país.
A
aparente indignação do governo espanhol, portanto, está dirigida não à defesa
dos interesses de sua nação ou do seu povo, mas de "investidores" privados.
Moral para questionar a decisão argentina, o Reino da Espanha não tem. Sua
constituição, no artigo 128, reza: "Toda a riqueza do país em suas distintas
formas e seja qual seja sua titularidade está subordinada ao interesse geral. Se
reconhece a iniciativa pública na atividade econômica. Mediante a lei se poderá
reservar ao setor público recursos ou serviços essenciais, especialmente em caso
de monopólio e, assim mesmo, acertar a intervenção em empresas quando assim o
exigir o interesse geral."
Com
decrescente influência na América Latina, se é que teve alguma influência
genuína nas últimas décadas, a Espanha busca aliados aonde pode. O Presidente
Felipe Calderón - por isso censurado por deputados da oposição - manifestou-se
em Cartagena, na Cúpula das Américas, e no "Fórum Mundial na América Latona, em
Puerto Vallarta, onde recebeu o Primeiro-Ministro espanhol, contra o
"protecionismo e as nacionalizações". No caso do "protecionismo" mandou um
recado ao Brasil, que exigiu a imposição de quotas para veículos "mexicanos",
depois da valorização do real com relação ao peso em 88% em dez anos, e também
depois que terceiros países passaram a mandar autopeças para juntá-las no México
para burlar as leis brasileiras e entrar em nosso mercado automobilístico, que
já é o quarto maior do mundo, sem pagar tarifas de importação.
O alerta quanto à "nacionalizações estava dirigido à Argentina. A Pemex mexicana
possui quase dez por cento da Repsol, e, com figuras como Carlos Slim, dono da
America Móvil e homem mais rico do mundo - o México foi o único país da América
Latina, além do Chile, que se aproveitou das privatizações na América do Sul,
nos anos 90.
México
e Espanha precisam muito mais do exterior do que o Brasil, cuja corrente de
comércio não chega a 13% do PIB. O fato de depender em mais de 90% do mercado
norte-americano para suas exportações, e de ser um país que, basicamente,
"maquila" - devido aos seus baixos salários - produtos destinados aos Estados
Unidos, limita a possibilidade do México de adotar, uma política de comércio
exterior verdadeiramente independente. E o mesmo acontece com a Espanha - que
teve suas "notas" novamente rebaixadas pelas agências classificadoras de risco
esta semana - que se submete, na economia e no comércio, às decisões e regras da
União Européia.
Fracassada
a tese da “ibero” América - a última cúpula “iberoamericana” realizada no final
do ano passado em Assunção, no Paraguay, brilhou pela ausência de 16 dos 22
presidentes convidados, que deixaram plantados a ver navios o rei Juan Carlos e
Zapatero - a Espanha, junto com os Estados Unidos, aposta, agora, na “Aliança do
Pacífico”.
A
intenção é usar o México para cooptar governos de corte mais neoliberal, como a
Colômbia e o Chile, para se contrapor, junto com o Peru, e observadores como
Panamá e Costa Rica, ao processo de integração continental capitaneado pelo
Brasil, em organismos como o Mercosul, a UNASUL e o Conselho de Defesa
Sul-americano.
Este
último movimento da estratégia neocolonial parece, no entanto, também estar
condenado ao fracasso. O presidente peruano Omanta Humalla não demonstra
entusiasmo pela iniciativa, lançada pelo seu antecessor, Alan Garcia, e já disse
que não vai participar da primeira cúpula presidencial do grupo, marcada para
junho deste ano, em Santiago do Chile.
sábado, 28 de abril de 2012
Éramos Mais Unidos aos Domingos
Stanislaw Ponte
Preta
(Sérgio Porto)
(Sérgio Porto)

As senhoras chegavam primeiro porque vinham diretas da missa para o café da manhã. Assim era que, mal davam as 10, se tanto, vinham chegando de conversa, abancando-se na grande mesa do caramanchão. Naquele tempo pecava-se menos, mas nem por isso elas se descuidavam. Iam em jejum para a missa, confessavam lá os seus pequeninos pecados, comungavam e depois vinham para o café. Daí chegarem mais cedo.
Os homens, sempre mais dispostos ao pecado, já não se cuidavam tanto. Ou antes, cuidavam mais do corpo do que da alma. Iam para a praia, para o banho de sol, os mergulhos, o jogo de bola. Só chegavam mesmo — e invariavelmente atrasados na hora do almoço. Vinham ainda úmidos do mar e passavam a correr pelo lado da casa, rumo ao grande banheiro dos fundos, para lavar o sal, refrescarem-se no chuveiro frio, excelente chuveiro, que só começou a negar água do Prefeito Henrique Dodsworth pra cá.
O casarão, aí por volta das 2 horas, estava apinhado. Primos, primas, tios, tias, tias-avós e netos, pais e filhos, todos na expectativa, aguardando aquela que seria mais uma obra-mestra da lustrosa negra Eulália. Os homens beliscavam pinga, as mulheres falando, contando casos, sempre com muito assunto. Quem as ouvisse não diria que estiveram juntas no domingo anterior, nem imaginaria que estariam juntas no domingo seguinte. As moças, geralmente, na varanda da frente, cochichando bobagens. Os rapazes no jardim, se mostrando. E a meninada, mais afoita, rondando a cozinha, a roubar pastéis, se fosse o caso de domingo de pastéis.
De repente aquilo que Vovô chamava de "ouviram do Ipiranga as margens plácidas". Era o grito de Eulália, que passava da copa para o caramanchão, sobraçando uma fumegante tigela, primeiro e único aviso de que o almoço estava servido. E então todos se misturavam para distribuição de lugares, ocasião em que pais repreendiam filhos, primos obsequiavam primas e o barulho crescia com o arrastar de cadeiras, só terminando com o início da farta distribuição de calorias.
Impossível descrever os pratos nascidos da imaginação da gorda e simpática negra Eulália. Hoje faltam-me palavras, mas naquele tempo nunca me faltou apetite. Nem a mim nem a ninguém na mesa, onde todos comiam a conversar em altas vozes, regando o repasto com cerveja e guaraná, distribuídos por ordem de idade. Havia sempre um adulto que preferia guaraná, havia sempre uma criança teimando em tomar cerveja. Um olhar repreensivo do pai e aderia logo ao refresco, esquecido da vontade. Mauricinho não conversava, mas em compensação comia mais do que os outros.
Moças e rapazes muitas vezes dispensavam a sobremesa, na ânsia de não chegarem atrasados na sessão dos cinemas, que eram dois e, tal como no poema de Drummond, deixavam sempre dúvidas na escolha.
A tarde descia mais calma sobre nossas cabeças, naqueles longos domingos de Copacabana. O mormaço da varanda envolvia tudo, entrava pela sala onde alguns ouviam o futebol pelo rádio, um futebol mais disputado, porque amador, irradiado por locutores menos frenéticos. Lá, nos fundos os bem-aventurados dormiam em redes. Era grande a família e poucas as redes, daí o revezamento tácito de todos os domingos, que ninguém ousava infringir.
E quando já era de noitinha, quando o último rapaz deixava sua namorada no portão de casa e vinha chegando de volta, então começavam as despedidas no jardim, com promessas de encontros durante a semana, coisa que poucas vezes acontecia porque era nos domingos que nos reuníamos.
Depois, quando éramos só nós — os de casa — a negra Eulália entrava mais uma vez em cena, com bolinhos, leite, biscoitos e café. Todos fazíamos aquele lanche, antes de ir dormir. Aliás, todos não. Mauricinho sempre arranjava um jeito de jantar o que sobrara do almoço.
Sérgio
Porto, a outra face de Stanislaw Ponte Preta, estaria completando
78 anos no último dia 11, caso não tivesse partido tão cedo de nosso convívio.
Com seu nome de batismo escreveu crônicas maravilhosas, ora líricas, ora
densamente dramáticas, retratando o ambiente carioca, onde deixa transparecer
sua fina sensibilidade sem conseguir esconder a nota de um irresistível
humor.
Texto extraído do livro “A
Casa Demolida”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1963, pág. 23. Fonte: http://www.releituras.com/spontepreta_domingos.asp
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Paulo Mendes Campos
Ilmo. Sr. Diretor do Imposto de Renda.
Antes de tudo devo declarar que já estou, parceladamente, à venda.
Não sou rico nem pobre, como o Brasil, que também precisa de boa parte do meu dinheirinho.
Pago imposto de renda na fonte e no pelourinho.
Marchei em colégio interno durante seis anos mas nunca cheguei ao fim de nada, a não ser dos meus enganos.
Fui caixeiro. Fui redator. Fui bibliotecário.
Fui roteirista e vilão de cinema. Fui pegador de operário.
Já estive, sem diagnóstico, bem doente.
Fui acabando confuso e autocomplacente.
Deixei o futebol por causa do joelho.
Viver foi virando dever e entrei aos poucos no vermelho.
No Rio, que eu amava, o saldo devedor já há algum tempo que supera o saldo do meu amor.
Não posso beber tanto quanto mereço, pela fadiga do fígado e a contusão do preço.
Sou órfão de mãe excelente.
Outras doces amigas morreram de repente.
Não sei cantar. Não sei dançar.
A morte há de me dar o que fazer até chegar.
Uma vez quis viver em Paris até o fim, mas não sei grego nem latim.
Acho que devia ter estudado anatomia patológica ou pelo menos anatomia filológica.
Escrevo aos trancos e sem querer e há contudo orgulhos humilhantes no meu ser.
Será do avesso dos meus traços que faço o meu retrato?
Sou um insensato a buscar o concreto no abstrato.
Minha cosmovisão é míope, baça, impura, mas nada odiei, a não ser a injustiça e a impostura.
Não bebi os vinhos crespos que desejara, não me deitei sobre os sossegos verdes que acalentara.
Sou um narciso malcontente da minha imagem e jamais deixei de saber que vou de torna-viagem.
Não acredito nos relógios... the pule cast of throught... sou o que não sou (all that I am I am not).
Podia ter sido talvez um bom corredor de distância: correr até morrer era a euforia da minha infância.
O medo do inferno torceu as raízes gregas do meu psiquismo e só vi que as mãos prolongam a cabeça quando me perdera no egotismo.
Não creio contudo em myself.
Nem creio mais que possa revelar-me em other self.
Não soube buscar (em que céu?) o peso leve dos anjos e da divina medida.
Sou o próprio síndico de minha massa falida.
Não amei com suficiência o espaço e a cor.
Comi muita terra antes de abrir-me à flor.
Gosto dos peixes da Noruega, do caviar russo, das uvas de outra terra; meus amores pela minha são legião, mas vivem em guerra.
Fatigante é o ofício para quem oscila entre ferir e remir.
A onça montou em mim sem dizer aonde queria ir.
A burocracia e o barulho do mercado me exasperam num instante.
Decerto sou crucificado por ter amado mal meu semelhante.
Algum deus em mim persiste
mas não soube decidir entre a lua que vemos e a lua que existe.
Lobisomem, sou arrogante às sextas-feiras, menos quando é lua cheia.
Persistirá talvez também, ao rumor da tormenta, algum canto da sereia.
Deixei de subir ao que me faz falta, mas não por virtude: meu ouvido é fino e dói à menor mudança de altitude.
Não sei muito dos modernos e tenho receios da caverna de Platão: vivo num mundo de mentiras captadas pela minha televisão.
Jamais compreendi os estatutos da mente.
O mundo não é divertido, afortunadamente.
E mesmo o desengano talvez seja um engano.
Texto extraído do livro "O amor acaba", Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 1999, pág. 259, organização de Flávio Pinheiro.
Fonte: http://www.releituras.com/pmcampos_menu.asp
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo
Neto
Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha
identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia,
meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os
papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus
lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a
medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O
amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus
cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas
receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas,
meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus
livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no
dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios
de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda,
o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no
banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma
usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a
mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito
escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de
água.
O amor voltou para comer os papéis
onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos
sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o
menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis,
andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do
largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre
marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha
cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos
e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas
chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas
coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não
anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os
anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o
futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras
estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha
guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça, meu medo da morte.
As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
A deliciosa história sobre a invenção do jogo do bicho
Luiz Antonio Simas,
O Globo
Luiz Antonio Simas é historiador
Fonte: Blog do NOBLAT.
Enviada por Flávio Lúcio
O Globo
O jogo do bicho surgiu no Rio de Janeiro em 1893. A criação da loteria
popular mais famosa do Brasil se deve ao complicado contexto político daqueles
tempos. A República, recentemente proclamada, tentava sepultar os resquícios da
Monarquia derrubada — e desse quiproquó entre os adeptos dos regimes surgiu o
jogo. Explico.
Nos tempos da Monarquia, o Barão de Drummond, eminência política do Império e
amigo da família real, era fundador e proprietário do Jardim Zoológico do Rio de
Janeiro — que então funcionava em Vila Isabel.
A manutenção da bicharada era feita, evidentemente, com uma generosa
subvenção mensal do governo, suficiente, diziam as línguas ferinas dos inimigos
do Barão, para alimentar toda a fauna amazônica por pelo menos dez anos.
Quando a República foi proclamada, o velho Barão perdeu o prestígio que
tinha. Perdeu, também, a mamata que lhe permitia, segundo o peculiar humor
carioca, alimentar o elefante com caviar, dar champanhe francesa ao macaco e
contratar manicure para o pavão.
Sem o auxílio do governo, o nosso Barão cogitou, em protesto, soltar os
bichos na Rua do Ouvidor — o que, admitamos, seria espetacular — e fechar em
definitivo o zoológico do Rio.
Foi aí que um mexicano, Manuel Ismael Zevada, que morava no Rio e era fã do
zoológico, sugeriu a criação de uma loteria que permitisse a manutenção do
estabelecimento. O Barão ficou entusiasmado com a ideia.
O frequentador que comprasse um ingresso de mil réis para o Zoo ganharia
vinte mil réis se o animal desenhado no bilhete de entrada fosse o mesmo que
seria exibido em um quadro horas depois. O Barão mandou pintar vinte e cinco
animais e, a cada dia, um quadro subia com a imagem do bicho vitorioso.
Caríssimos, se bobear essa foi a ideia mais bem-sucedida da história do
Brasil. Multidões iam ao zoológico com a única finalidade de comprar os
ingressos e aguardar o sorteio do fim de tarde.
Em pouco tempo, o jogo do bicho tornou-se um hábito da cidade, como os
passeios na Rua do Ouvidor, a parada no botequim, as regatas na Lagoa e o fim de
semana em Paquetá. Coisa séria.
A República, que detestava o Barão, proibiu, depois de algum tempo, o jogo no
zoológico. Era tarde demais.
Popularizado, o jogo espalhou-se pelas ruas, com centenas de apontadores
vendendo ao povo os bilhetes com animais dadivosos. Daí para tornar-se uma mania
nacional, foi um pulo. O jogo do bicho deu samba — com trocadilho.
Contei rapidamente a história da criação do jogo para constatar o seguinte: a
situação atual do zoológico do Rio de Janeiro não parece ser muito diferente
daqueles tempos bicudos do velho Barão de Drummond.
Dia destes, o próprio O GLOBO veio com uma reportagem chamando atenção para o
desleixo a que o jardim está entregue em tempos recentes. Enquanto a loteria
popular prosperou e virou uma espécie de instituição nacional, o zoológico não
teve a mesma sorte.
O jogo, que a rigor foi criado apenas para tirar o zoológico da situação de
abandono e com uma inocência digna das histórias de Polyana, a moça, chegou
longe demais. Vejam, por exemplo, as atuais peripécias republicanas do bicheiro
Carlinhos Cachoeira (curiosamente chamado por alguns da mídia de “empresário da
contravenção”).
A inocente loteria popular ganhou asas e se transformou em uma complexa
organização criminosa, com tentáculos inimagináveis que envolvem até mesmo
cândidas vestais de ternos e togas do moralismo tupiniquim.
Deixo aqui a minha sugestão: já que o poder público aparentemente não dá
pelota para a bicharada, confisquem as fortunas que o crime organizado amealhou
em aparente conluio com os bacanas e poderosos da República.
Separem um pouquinho da grana tungada e, por justiça histórica, destinem o
tutu ao carente Jardim Zoológico do Rio de Janeiro.
Uma parte do dinheiro do mafioso Cachoeira deve servir ao nobre destino de
alimentar cobras, leões, passarinhos e macacos que, afinal de contas, fazem a
alegria da criançada carioca em fins de semana.
A César o que é de César. Ou alguém aí sugere a criação de uma loteriazinha
inocente que pode salvar o zoológico carioca desse abandono? Não recomendo.
Luiz Antonio Simas é historiador
Fonte: Blog do NOBLAT.
Enviada por Flávio Lúcio
terça-feira, 24 de abril de 2012
Vi no Icó é notícia
ADAGRI NA REGIÃO - O Diário Oficial do Estado [DOE] de 18 de abril de 2012 trouxe a Portaria nº 089/2012, que divulgou a nova redistribuição das 40 unidades da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará [Adagri]. O novo documento, assinado pelo presidente Francisco Augusto de Souza Júnior, revogou a Portaria nº123/2011, publicada no DOE de 17 de junho de 2011.
ADAGRI NA REGIÃO - Na região, a Unidade local de Ipaumirim atenderá aos municípios de Ipaumirim, Baixio, Umari e Lavras da Mangabeira. Ainda há a unidade local de Jaguaribe responderá por Jaguaribe, Ererê e Pereiro. Todas as duas unidades estão subordinadas à Unidade Regional de Iguatu.
ADAGRI NA REGIÃO - Na região, a Unidade local de Ipaumirim atenderá aos municípios de Ipaumirim, Baixio, Umari e Lavras da Mangabeira. Ainda há a unidade local de Jaguaribe responderá por Jaguaribe, Ererê e Pereiro. Todas as duas unidades estão subordinadas à Unidade Regional de Iguatu.
TRANSCREVO PARA VOCÊS A EXCELENTE REPORTAGEM DA REVISTA TRIP. VI A INDICAÇÃO NO BLOG QUERIDO LEITOR.
IPAUMIRIM TAMBÉM ENVIOU GENTE AO GARIMPO DE SERRA PELADA. Eita "nóis"!
Fonte da matéria: http://revistatrip.uol.com.br/revista/183/do-caos-a-lama.html
Do caos à lama
O sonho do ouro volta a assolar o Pará; Victor Lopes conta o que sobrou da Serra
Pelada
Com a notícia de que ainda há 50 toneladas de metais preciosos
no subsolo de Serra Pelada, o sonho do ouro volta a assolar o sul do Pará. O
cineasta Victor Lopes conta o que sobrou da lenda do Eldorado brasileiro, um
lugar síntese do país com sua mistura de miséria e riqueza extremas
Raimunda tem 66 anos e foi uma das primeiras mulheres a entrar no garimpo de
Serra Pelada. Olhos vivos, mente ágil, na tarde quente a ex-garimpeira está
sentada na entrada de sua casa, a menos de 1 km da antiga cava. Uma casa típica
do sul do Pará, de madeira de castanheira, erguida sólida o suficiente para
resistir em pé e ser movida entre as chuvas, ou abandonada quando chegar a hora.
Nas paredes cor-de-rosa esmaecidas da madeira gasta, retratos e calendários se
misturam a galhardetes de campanha política.
Começo com a pergunta eleita para abrir quase todas as entrevistas, um
artifício a mais na construção do filme: “Qual foi a primeira vez que você ouviu
falar de Serra Pelada?”. E apareceu a primeira de três respostas que ninguém
esperava.
“A primeira vez que eu ouvi falar de Serra Pelada, foi eu que vim aqui em
sonho, voando, então eu cheguei naquelas terras acolá, cheguei em casa e falei
pra esse José Fragoso de Almeida, meu marido então: José eu fui num lugar assim
que é muito bonito, tem tanta serra... Aí ele disse assim, você tá ficando é
doida, e eu digo, não, eu ainda vou morar lá...”
Imagem: Antonio Venâncio
Dois garimpeiros, um deles coberto da lama de ouro preto, se preparam para receber a visita de João Figueiredo
Raimundo Benigno é presidente do Sindicato de Garimpeiros de Serra Pelada.
Ameaçado de morte há muitos anos, tem escolta constante de dois soldados, entra
e sai da vila sempre em segredo. Durante a pesquisa do documentário, depois de
dias de expectativa somos levados até ele, que chegou do nada algumas horas
antes. Sentamos na sala da casa de um parente e começamos a conversar. Depois de
alguns minutos, ele pede para fechar a janela atrás de mim, pois estamos ambos
na linha de tiro de pistoleiros que cercam a casa no morro em frente.
Continuamos a falar antes de os seguranças nos pedirem pra fazer a entrevista na
cozinha nos fundos da casa.
“Se a fé remove montanhas, nós removemos uma usando apenas os braços. Em
serra pelada, até as profecias bíblicas viram realidade”
“Em dezembro de 1979 eu tive um sonho, eu era estudante de direito em São
Paulo, não tinha nenhuma possibilidade de vir ao Pará, não conhecia, e tive um
sonho que eu estava numa montanha e vi três poços profundos e que eu achava que
era diamante na época, brilhando. Nas primeiras imagens de Serra Pelada em que
eu vi aquele buraco, eu falei: ‘É meu sonho’. Em março de 1980, eu larguei a
faculdade, larguei tudo que eu tinha em São Paulo e vim viver esse sonho.”
José Raimundo é conhecido como Índio do MST, nome que usa em sua carreira
política. Ele nos recebe no acampamento 17 de Abril, fundado com este nome por
sobreviventes do massacre de Eldorado dos Carajás, a cerca de 40 km de Serra
Pelada. Dos 19 sem-terra assassinados na curva do S em 1997, 16 eram
ex-garimpeiros de Serra. Pergunto novamente: “Qual foi a primeira vez que você
ouviu falar de Serra Pelada?”.
“Eu sonhei com o garimpo. Quem vê pensa que eu tô mentindo, mas é verdade, eu
sonhei com esse garimpo, sonhei com tudo, toda a estrutura do garimpo, eu
sonhei.”
China brasileira
No mês passado, depois de décadas de confrontos entre as várias partes interessadas na exploração de Serra Pelada, o sonho do ouro voltou a frequentar o imaginário dos garimpeiros. A Coomigasp (Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada) deu entrada ao pedido de concessão de lavra para explorar o subsolo da área. Associada à multinacional canadense Colossus, a cooperativa iniciou o processo oficial de reabertura da mina, agora para extração mecânica, apoiada num relatório de sondagens que identificou ao menos 50 toneladas de ouro, paládio e platina. A partir do acordo com os garimpeiros em 2007, as ações da Colossus tornaram-se blue chip (ações de “primeira linha”) nas bolsas de Toronto e Nova York e seguem em alta no momento em que o metal, puxado pela crise e pela queda do dólar, atinge seu maior preço no mercado internacional.
Se Serra Pelada definhou desde o fechamento da mina, a região à sua volta
viveu as mutações do progresso. O que era floresta virgem há 40 anos hoje está
tomado de pasto e cidades erguidas no trilho da mineração, numa das maiores
províncias minerais da Terra. Na esteira da expansão da Vale, o Sul do Pará foi
batizado de “China brasileira” por seus índices de crescimento anual acima de
10% nos últimos 15 anos. Prédios, bairros e cidades aparecem e aumentam sem
parar. As previsões de investimento da Vale na região para os próximos anos
chegam a US$ 40 bilhões , puxando indústrias paralelas e perspectivas de
progresso, que se aliam à perspectiva de pacificação nos históricos conflitos
agrários da região.
Imagem: Breno Santos
Foto rara do começo das escavações do morro da Babilônia, em 1980
Aqui, no rumo inverso da história, gente de todo o Brasil, mas principalmente
nordestinos, migra para longe do litoral e das capitais rumo a outras fronteiras
e futuros na Amazônia. De 1980 a 1986, no coração da selva amazônica, 115 mil
homens garimparam quase 100 toneladas de ouro e transportaram nas costas uma
montanha de 150 m de altura. Como diz um dos personagens do documentário, “se a
fé remove montanhas, em Serra Pelada nós removemos uma montanha usando só os
braços. Aqui, até profecias bíblicas se tornam realidade!”.
E Serra Pelada se transformou num lago de 140 m de profundidade, criado
depois que as escavações atingiram o lençol freático e tornou-se inviável
bombear a água para a continuação do garimpo manual.
A montanha que virou lago, uma incrível simetria, abrupta passagem de céu e
terra, fenda de sonhos sempre cercada de miséria, disputas e lendas durante os
últimos 40 anos. Como diz Ricardo Kotscho, que foi o primeiro jornalista a
entrar no garimpo, “Serra Pelada era uma redução do Brasil e um dos raros
lugares síntese da história recente do país”. Um lugar de riqueza profunda, na
terra e nos homens, em que terra, ouro e água se misturam a mito e história,
real e imaginário, poder, delírio, poesia, violência e superação.
Apocalypse now amazônico
Desde a sua descoberta, o ouro de Serra Pelada foi alvo de disputas violentas. Primeiro, entre a companhia Vale do Rio Doce, então uma empresa estatal que por lei detinha os direitos minerais da região, e os garimpeiros que chegaram à região com a notícia das primeiras pepitas. A Vale na época era presidida por Eliezer Batista, empreendedor lendário, personagem discreto e central na história recente do Brasil e pai de Eike Batista, hoje o homem mais rico do país. Por dialética do destino, dirijo também uma biografia de Eliezer que chega aos cinemas em novembro. No fim dos depoimentos, ele aceita falar sobre a Serra, recua na cadeira e nos revela que até ameaça de morte sofreu para não mexer com a briga pelos direitos de exploração do ouro. O fato de o presidente da maior mineradora estatal brasileira ser ameaçado é simbólico e impressionante. “Nunca houve nada igual àquilo, nem na febre de ouro na Califórnia, nada se compara a Serra Pelada, é uma coisa única no mundo”, diz Eliezer.
Imagem: Antonio Venâncio
Curió na época de interventor no garimpo
Com o fim da mineração, os ex-garimpeiros formaram uma vila em torno do lago
onde hoje vivem 7 mil habitantes, que podem chegar a 20 mil em semanas de
assembleia e eleições. Ocupada por pessoas que não puderam, ou não quiseram,
voltar para suas terras natais e que decidiram resistir e guardar a cava.
Sentinelas mágicas de um faroeste do século 21. Existem poucas opções de
trabalho e uma população envelhecida aguarda o desfecho da história, vivendo de
aposentadoria em terrenos da União que devem ser desocupados quando a mina for
mecanizada um dia.
A vila de Serra Pelada faz parte do município de Curionópolis, que tem esse
nome em homenagem a Sebastião Curió. Figura lendária do sul do Pará, versão real
do coronel Kurtz de um Apocalypse now amazônico, personagem raro da
história recente do país, ele comandou a ofensiva final contra a guerrilha do
Araguaia e foi acusado pelo desaparecimento e pela morte de vários opositores da
ditadura militar. Depois de ser nomeado interventor do garimpo, elegeu-se
deputado federal. Em 1984, rompeu com o governo e com a CVRD (que foi indenizada
em US$ 60 milhões pelo Estado por um ouro que não explorou) e fundou a
cooperativa que detém os direitos minerários até hoje. Eleito por três vezes
prefeito de Curionópolis, ele foi cassado em abril de 2008 por compra de votos.
No documentário, Curió é um dos personagens centrais, por conta dos depoimentos
históricos reveladores durante as filmagens.
“Nunca houve nada igual àquilo, nem na febre do ouro na Califórnia”, diz Eliezer Batista, ameaçado de morte quando era presidente da Vale
Depois de constantes disputas entre diferentes facções pelo comando da
Coomigasp, que culminaram com mortes e prisões em maio de 2008, Curió foi
afastado das negociações sobre o futuro da mina, e uma nova diretoria foi
eleita. Hoje a situação parece mais calma. Com mediação do governo federal, o
pedido de lavra está encaminhado, e as sondagens continuam, embora o contrato
com a Colossus sofra variadas contestações.
Para Breno Santos, ex-geólogo da Vale, se a própria Vale, com toda a sua
eficiência empresarial, desistiu de Serra Pelada, nenhuma empresa colocaria
dinheiro lá. É apenas uma lenda. Para o geólogo John Hellman, responsável pelas
sondagens da empresa canadense em andamento, é um sonho também. Mas mineração é
isso, sonhar com o que existe dentro da terra.
A visão dos velhos garimpeiros é bem diferente da dos especialistas. Na beira
da cava, seu Trovão para de lavar roupa por um momento e nos conta que “embaixo
de tudo tem uma laje de ouro e depois uma jazida de diamantes com 2 km de
extensão. E no meio tem uma pedra, já pesquisada, do tamanho de uma geladeira
que no mundo todinho, no universo todinho, não há dinheiro que pague essa pedra,
só a pedra!”.
Imagem: Reprodução
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Imagem: Reprodução
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Imagem: Reprodução
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Em
1985, Rita Cadillac fez um apoteótico show em um circo armado em Serra Pelada e
tornou-se a musa dos garimpeiros. A então chacrete se esfregou com as roupas
atiradas em delírio na direção do palco e deixou no local uma coleção de
calcinhas, disputadas como trofeus. O cachê de Rita foi pago com pepitas de
ouro. Diz a lenda que criaram e venderam em Serra um sabonete com a forma de sua
histórica retaguarda. As cenas acimas foram tiradas de série de documentários
The world about us, feita pela rede britânica BBC
Cineasta garimpeiro
A primeira vez que estive em Serra Pelada foi em julho de 2002. Fui contratado para realizar dois documentários para a então companhia Vale do Rio Doce no sul do Pará. Fiquei instigado ao ver que o lendário garimpo de Serra Pelada, ou o que sobrava dele, ficava a 70 km da mina de Carajás. Assim, já cheguei à região decidido a me aproximar de alguns dos principais personagens da história, ou lenda, da maior mina de ouro a céu aberto do mundo.

Victor Lopes (dir.) com o ex-garimpeiro Pelé
A primeira vez que estive em Serra Pelada foi em julho de 2002. Fui contratado para realizar dois documentários para a então companhia Vale do Rio Doce no sul do Pará. Fiquei instigado ao ver que o lendário garimpo de Serra Pelada, ou o que sobrava dele, ficava a 70 km da mina de Carajás. Assim, já cheguei à região decidido a me aproximar de alguns dos principais personagens da história, ou lenda, da maior mina de ouro a céu aberto do mundo.
Imagem: Renato Chalu
Victor Lopes (dir.) com o ex-garimpeiro Pelé
Em poucas semanas me deparei com uma história única, um western épico contemporâneo, uma aventura humana que precisava ser contada, perdida entre o passado e o presente, esperando um roteiro de ficção ou um livro que a cavasse. Enquanto ouvia os primeiros esboços de fatos e lendas que levaram a essa mistura de mito e faroeste, pensei também num documentário. Começo a entrevistar os garimpeiros e vou descobrindo histórias fascinantes, em que cada “formiga” era um épico, na voz desses homens, para sempre enfeitiçados pelas visões do garimpo e sua jogatina frenética.
Hoje, depois de sete anos, entre pesquisas, viagens, escritas, financiamento e filmagens, encontra-se em final de produção o documentário de longa-metragem que tem o título provisório de Serra Pelada – a lenda da montanha de ouro, dirigido por mim e produzido pela TVZero (de Herbert de Perto, Simonal e Língua, entre outros), que entra no circuito de festivais nacionais e internacionais no primeiro semestre de 2010.
Das fotos de Sebastião Salgado até filmes e imagens de TV de todo o mundo, Serra Pelada foi a mais bem registrada corrida de ouro de todos os tempos. Mas é uma história que não se encerra nas imagens míticas do “formigueiro humano”. A aventura da maior concentração de trabalhadores depois das pirâmides do Egito não acabou de ser escrita, nem filmada.
“E embaixo de tudo tem uma laje de ouro...”
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Importante
Cientistas desenvolvem exame capaz de diagnosticar depressão através do sangue
Pesquisadores da Universidade de Northwestern, EUA, chegaram a um exame em
que é possível detectar a depressão em adolescentes através do sangue. O exame
mede um conjunto de características específicas encontradas na corrente
sanguínea.
Atualmente, a doença é diagnosticada através da conversa entre médico e
paciente, o que pode ser prejudicado por causa das alterações de humor do
paciente.
domingo, 22 de abril de 2012
DOMINGO MEMORIOSO: SÉRIE PREFEITOS DE IPAUMIRIM. GESTÃO ALEXANDRE GONÇALVES
FOTO DE 1958
Jarismar Gonçalves, Vicente Gomes de Morais, Alexandre Gonçalves da Silva,
Luiz Leite da Nóbrega e Geraldo Saraiva (Geraldo, de Pio)
Imagem do arquivo particular de Vilany Nóbrega Brasil que
atualmente pertence a Maria Luiza Nóbrega de Morais.
Alexandre Gonçalves da Silva - 1958 a 1962 – O vice era Vicente
Gomes de Morais.
Alexandre Gonçalves da Silva, candidato
pelo PSP, foi o primeiro prefeito primeiro
prefeito eleito por ipaumirinenses para governar o município de Ipaumirim após
a restauração dos municípios de Baixio e
Umari. Conforme dados do TRE disponíveis
na internet, o município tinha 2.454 eleitores. Votaram 2.102 (89,57%) e as
abstenções compreendem 352 eleitores (14,34%).
A eleição correu em 03 de outubro de 1958.
No documento do TRE disponível na
internet, na seção “Resultados eleitorais por município”, não constam os dados
sobre Ipaumirim nem os de Baixio e de Umari. Os três municípios integravam a
58ª Zona Eleitoral do Ceará. Portanto, não temos informações corretas para
complementar os dados sobre a eleição assim como também a relação dos partidos
políticos nem sequer os nomes dos vereadores eleitos no período.
. Calçamento das ruas Bento Vieira e
Miceno Alexandre em toda sua extensão.
. Demolição do antigo açougue onde
posteriormente foi construído o prédio da prefeitura antes da aquisição do
prédio do Banco do Brasil. A intenção seria construir a prefeitura naquele local mas a verba federal, conhecida
como Cota Federal, era anual e no período só era suficiente para pagar os
funcionários da naquela epoca era anual conhecida por cota fedaral e naqule ano
só deu para pagar funcionarios.
. Aquisição de instrumentos e fundação
da primeira banda de música de Ipaumirim. Para mais detalhes, vide matéria de
Francisco Farias “Como foi minha
bandinha”, publicado no alagoinha.ipaumirim em 11.02.2012, do qual extraímos o
parágrafo de abertura para publicá-lo agora:
“Era o já distante ano de 1962. O
prefeito de Ipaumirim, já no último ano de mandato era o Sr. Alexandre
Gonçalves. Exatamente por essa época, com o apoio decisivo de Dr. Jarismar
Gonçalves, seu filho, começaram a ser adquiridos pela Prefeitura dos primeiros
instrumentos e teve início, com sede provisória no Clube Recreativo de
Ipaumirim – CRI a minha inesquecível Banda de Música Municipal de Ipaumirim, a
primeira na espécie.”
Alexandre Gonçalves da Silva, candidato
pelo PSP, foi o primeiro prefeito eleito
após a restauração dos municípios de Baixio e Umari sendo portanto o primeiro
prefeito eleito por ipaumirinenses para governar o município de Ipaumirim. Conforme
dados do TRE disponíveis na internet, o município tinha 2.454 eleitores.
Votaram 2.102 (89,57%) e as abstenções compreendem 352 eleitores (14,34%). A eleição correu em 03 de outubro de 1958.
No documento do TRE disponível na
internet, na seção “Resultados eleitorais por município”, não constam os dados
sobre Ipaumirim nem os de Baixio e de Umari. Os três municípios integravam a
58ª Zona Eleitoral do Ceará.
Agradecemos as informações prestadas
por Dr. Jarismar Gonçalves que nos mandou inclusive uma fotografia da época.
Infelizmente uma queda de energia queimou a fonte do meu scanner e não tive
como colocar a foto assim como uma foto de Alexandre Gonçalves quando prefeito.
Fico devendo estas fotos para vocês e
assim que eu tiver tempo para resolver o problema vou inseri-las no texto.
SE VOCÊ TIVER ALGUMA CORREÇÃO E/OU INFORMAÇÃO QUE POSSA ENRIQUECER NOSSO TEXTO, POR FAVOR, ENVIE PARA luiza_ipaumirim@yahoo.com.br QUE FICAREMOS IMENSAMENTE AGRADECIDOS.
ML
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