terça-feira, 17 de novembro de 2009

Aos amantes do cinema


Para mim não existe nada mais bonito de se ver do que uma mulher andando, desde que com um vestido ou saia que mexa no ritmo de seus passos. Algumas mulheres andam como se tivessem um objetivo; um encontro talvez. Outras apenas passeiam com ar despreocupado. Algumas são tão belas vistas por trás que hesito em ultrapassá-las, temendo ficar decepcionado. Porém, nunca me desaponto. Quando elas não me agradam de frente, me sinto aliviado de certa maneira; pois, infelizmente, não posso ter todas elas.

Milhares delas andam pelas ruas diariamente. Mas quem são todas essas mulheres? Para onde vão? Dirigem-se a algum encontro? Se o coração delas está livre, então seus corpos devem ser pegos, e creio que não tenho o direito de deixar passar essa chance. A verdade é que elas desejam a mesma coisa que eu: elas querem amor. Todo mundo quer amor. Todos os tipos de amor: amor físico, amor sentimental ou simplesmente a ternura desinteressada de alguém que escolheu outro alguém para a vida toda, e não tem olhos para mais ninguém. Não me encontro nessa situação; olho para todas.

Como alguns animais, as mulheres praticam a hibernação. Durante quatro meses elas desaparecem. Não são vistas. E então, no primeiro raio de sol do mês de março, como se tivessem combinado ou recebido uma ordem de mobilização, elas aparecem às dezenas nas ruas, com roupas leves e saltos altos. E a vida recomeça.

Uma bela perna é maravilhosa, mas não sou inimigo dos tornozelos grossos. Posso até dizer que me atraem: são a promessa de um alargamento mais harmonioso subindo ao longo da perna. As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-lhes equilíbrio e harmonia.

Recentemente percebi que no inverno sou atraído por seios grandes. Entretanto, no verão, gosto dos pequenos. Duas pequenas maçãs andando de braços dados. Mas o que têm todas essas mulheres? O que têm a mais do que todas as outras que conheço? Bem, justamente, o que têm a mais é isso: elas ainda me são desconhecidas.

Texto de François Truffaut pelo seu personagem Bertrand Morane em O Homem que Amava as Mulheres.

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