terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Quem te viu, quem te vê

Pátio do Colégio Agrícola
LAVRAS: ESCOLA AGROTÉCNICA ABANDONADA
NA TERRA DE EUNÍCIO OLIVEIRA
Por: Tarso Araújo

Responsável pela formação de milhares de estudantes da Região do Cariri, a Escola Agrotécnica Federal Professor Augusto Lima, em Lavras da Mangabeira, é o retrato do descaso, da indiferença e da falta de zelo das autoridades governamentais. Desde 2001, a escola está abandonada, embora durante dois anos, a Prefeitura do Município tenha ocupado um dos prédios como sede da Secretaria de Agricultura. Esta matéria é o principal destaque da edição desta semana do Jornal do Cariri.

Localizada na cidade berço do deputado federal Eunício Oliveira (PMDB), a Escola Agrotécnica foi fundada em 1955, formou milhares de estudantes, se transformou em centro de atenção das cidades próximas a Lavras da Mangabeira, mas, hoje, se encontra em ruínas, com paredes e telhados destruídos, equipamentos depredados, terras invadidas e indiferença dos políticos do Município. Os cupins, as formigas e os morcegos habitam, atualmente, o que foi uma das escolas mais importantes para a história do ensino técnico agrícola do Cariri.
O professor José Ivan de Figueiredo, que acompanhou a reportagem do Jornal do Cariri na visita às dependências internas do colégio, não esconde a revolta e emoção diante de tanto abandono. ‘’Uma escola como esta, que chegou a ter 1.200 alunos, com 500 estudantes internos, não era para estar abandonada como se encontra hoje. Vejo tudo isso com muita tristeza, com sofrimento, lamento e revolta’’, afirma indignado o professor José Ivan que, entristecido, tem os olhos molhados com as lágrimas que ameaçam descer ao rosto diante da revolta que sente por se deparar com o descaso.


Segundo José Ivan, parte dos 300 hectares de terras, que pertencem a escola, era ocupada com atividades agrícolas, com o cultivo de goiaba, manga, banana, com a criação de suínos, gado, frango e coelhos. Um viveiro de plantas, com mudas comercializadas na região, era mantido como mecanismo de ensino e formação para os estudantes. ‘’Em 1979, cheguei como estudante e comecei a trabalhar na escola. Aqui, a riqueza era muito grande. Hoje, somente tristeza, destruição e desmatamento’’, acrescentou José Ivan, que ainda dá aula de educação ambiental e mantém um apiário no lugar.
O relato do professor José Ivan de Figueiredo mostra que a Escola Agrotécnica Federal Professor Augusto Lima passa à margem das preocupações dos Governos Municipal, Estadual e Federal. Ao longo dos últimos oito anos, a Escola Agrotécnica não recebeu atenção da prefeita reeleita Dena Oliveira (PMDB), nem do deputado federal Eunício Oliveira, que, mesmo tendo a oportunidade de apresentar emendas ao Orçamento da União para recuperá-la, não o fez nos últimos oito anos.
‘’Toda a estrutura física do colégio está deteriorada, está precisando de socorro. É um absurdo todo este patrimônio estar entregue as baratas. Não se viu mais ninguém desde este abandono’’, acrescenta José Ivan, esperançoso de um dia ver a história e a escola reconstruídas em Lavras da Mangabeira.


O deputado federal Eunício Oliveira (PMDB) disse, ao ser procurado pelo Jornal do Cariri, que já conversou com o Governo do Estado para transformar a Escola Agrotécnica em CEFET (Centro Federal Tecnológica). Eunício disse ter sido aluno da escola, assim como o vice-governador Francisco Pinheiro, e, em 2009, o CEFET será uma realidade. A prefeita de Lavras da Mangabeira, Dena Oliveira (PMDB), foi procurada, mas não atendeu, nem retornou as ligações da nossa reportagem.


Colaboração Amaury Alencar
Fonte: http://www.cearaagora.com.br/index.htm
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EDITORIAL DO JORNAL DO CARIRI
ESCOLA AGROTÉCNICA: EDUCAÇÃO EM RUÍNAS
Por: Antonio Oliveira

O símbolo mais perturbador da ruína do sistema educacional público vem de Lavras da Mangabeira. O JC, nesta edição, traz a denúncia do abandono, físico e político, da tradicional Escola Agrotécnica Professor Augusto Lima, fundada na metade do século passado, com milhares de formados, dentre os quais muitos dos filhos da elite da cidade. As lágrimas do professor José Ivan Figueiredo sintetizam o abandono do local. Cupins, morcegos e formigas correm a estrutura física.

Antes dessas pragas, outras, que atacam a alma, já corroeram o espírito dos dirigentes políticos de Lavras da Mangabeira, tornando-os cegos e inertes ante a destruição de um dos antigos modelos da velha educação pública brasileira. O caso da Escola Agrotécnica é retumbante. Silencia qualquer explicação. Desmonta qualquer desculpa. Revela a mentalidade das lideranças sociais e políticas de Lavras.

Para que conservar uma escola pública, quando nossos filhos podem estudar na capital, em instituições privadas? Para que investir em um local que serviu ao passado, mas agora só interessa às famílias mais humildes, cuja consciência é - segundo pensam - comprável a cada eleição? Terra de um político nacionalmente conhecido, o deputado Eunício Oliveira, cuja irmã é a prefeita, já no segundo mandato, Lavras da Mangabeira convive com a situação vergonhosa da invasão da escola por posseiros, além do desvio na estrutura e na finalidade da agrotécnica.
Nenhum voz se ergueu, até agora, para expor o problema ou apresentar soluções. Os deputados estaduais, a prefeita Dena Oliveira e seu irmão, o deputado Eunício Oliveira, têm agora a oportunidade concreta de adotar medidas, ou exigir de quem as possa providenciar, em favor da recuperação desse antigo símbolo da educação no Cariri. Admitindo-se, é claro, que uma situação dessa gravidade era desconhecida desses influentes atores políticos.

Ao menos se agirem agora, ficarão apenas com a responsabilidade pelo desinteresse em acompanhar a realidade de Lavras. O que importa é a resolução imediata das causas desse abandono, que deixou o professor José Ivan Figueiredo no estado de prostração descrito na reportagem.

Lavras é um município com elevados índices de pobreza e baixos patamares de desenvolvimento humano. A vocação agrícola foi determinante para a criação da Agrotécnica nos anos 1950. Ainda hoje essa realidade persiste. O que não se entende é como se atingiu esse nível de abandono.

Mais do que a própria incompreensão com esse estado de coisas, deve-se investigar suas causas e punir seus responsáveis. Não se concebe que a escola haja chegado a esse nível de deterioração sem que quaisquer providências concretas hajam sido tomadas para interromper esse processo degradante. Sempre se argumenta que a educação é a solução dos problemas nacionais. As verbas para o setor são continuamente aumentadas. Mas, uma constatação singela do episódio da Escola Agrotécnica de Lavras é a distância entre o discurso fácil, proferido de tribunas dos parlamentos e dos palanques políticos nas eleições, e a postura efetiva de enfrentamento das deficiências do setor.

Os efeitos desse descaso, que agora se refletem na própria estrutura de uma escola, são maiores e diretos na vida de milhares de jovens, cujo futuro estará irremediavelmente comprometido pela supressão de uma fonte de acesso a uma vida melhor. Lavras não pode deixar sua escola de formação de técnicos agrícolas morrer. Nem Lavras, nem a Prefeitura, o Governo do Estado e o Governo Federal. A responsabilidade é de todos. O desastre foi constatado.

O abandono é notório. Não há desculpas. Não há remendos. A situação demanda ação. Ação concreta, imediata e efetiva. O JC, com essa matéria, presta um serviço não somente a Lavras, cujos líderes políticos parecem não levar tanto em consideração como deviam, mas a todos os municípios do Cariri. Quantas Escolas Agrotécnicas não existem em nossa região, abandonadas e esquecidas? Esse é um caso ímpar, pelo elevado grau de depauperação e descaso. Mas, como ele, outros devem existir e estão a merecer a ação concreta das autoridades. A morte de uma escola é a condenação ao futuro de jovens. As futuras gerações serão as maiores vítimas dessa omissão deliberada cometida nos dias de hoje. A Escola Agrotécnica de Lavras precisa de socorro.
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FAMÍLIAS OCUPAM ÁREA DA ESCOLA AGROTÉCNICA
DE LAVRAS DA MANGABEIRA
Por: Antonio Oliveira

Abandonada pelo poder público e com a sua construção sendo destruída, ao poucos, pela ação da natureza, a Escola Agrotécnica Federal Professor Augusto Lima tem 72 famílias que ocupam boa área de suas terras. Algumas famílias ocupam parte dos prédios. Outras, que residem na sede do Município, estão produzindo arroz, feijão e milho.
Famílias que perderam tudo nas enchentes deste ano, também, encontram nas terras da Escola Agrotécnica um abrigo e um meio de garantir renda para se sustentar. O professor José Ivan manifesta outras preocupações senão houver a intervenção do poder público. "Estão surgindo freqüentes roubos porque até arames das cercas retiram e levam para vendê-los. Se eu não tivesse uma ação enérgica até um dos transformadores que estava em um dos postes da rede elétrica tinha sido roubado", expôs José Ivan, ao dizer que, em 2001, quando a escola ficou abandonada a Coelce suspendeu o fornecimento de energia. Hoje, a energia está religada porque cada posseiro é responsável pelo próprio consumo. José Ivan relata, ainda, que durante muito tempo a água de um dos açudes da propriedade era retirada para alimentar a produção de capim, enquanto moradores da cidade eram abastecidos com carro pipa.
Com as chuvas deste ano, segundo ele, o nível da água aumentou e os posseiros criam peixe que os permite um completo de renda. Ele cita, também, que um trator velho, que está no pátio do colégio, é o exemplo do abandono.
A posseira Maria Nilza da Silva que, sem ter onde morar passou a ocupar um dos galpões da Escola Agrotécnica, disse, ao conversar com a nossa reportagem,que passou a morar nas terras do colégio porque tudo estava abandonado. `´Não tinha para onde ir e como o governo está com uma área desta sem nenhuma utilidade, resolvi me apossar.
Aqui estou pelo menos garantindo um teto para morar porque eu perdi tudo que tinha em minha casa na cidade com as fortes chuvas deste ano´´, afirma dona Maria Nilza, ao dizer passa dificuldades para se alimentar com o marido e os dois filhos, mesmo plantando milho e feijão.

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