quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Criatividade tem limite?


Parece que hoje vou ter um tempinho para explicar a publicação de tantos nomes durante a semana. Eles foram retirados da lista de aprovados da UECE. É certo que o cearense tem fama de ser criativo na escolha de nomes para os filhos. Fazem combinações esdrúxulas, incompreensíveis, prestam homenagem a todo tipo de gente mas até criatividade parece ter limite em certas ocasiões.
Durante minha vida de professora – e não foi no Ceará - já esbarrei em aluno que me pedia para não dizer o seu nome na hora da chamada para evitar constrangimentos. Mas durante todos esses anos nunca vi tanto nome esquisito compondo uma única lista. É certo que temos os nomes da moda. De repente, as cadernetas de frequencia estão cheias de Jéssica, Natálias, Karinas, Anas tal e qual, Tiagos, Mateus e por aí vai. Dá até para identificar os que nasceram no tempo de novelas famosas.
As pessoas estavam esquecidas da beleza dos nomes simples. Num certo momento, essas extravagâncias eram típicas das classes, digamos, mais “amostradas” para marcar a diferença. Mas a mídia nivela tudo e aí as classes populares foram picadas pela mosca do modismo e resolveram seguir a mesma trilha. Os “amostrados” saíram do circuito e apelaram para os apóstolos, deusas, papas, líderes e mandaram brasa.
Como se não bastasse a insanidade paterna, ainda tem funcionário de cartório que escreve errado. O registro civil devia ter o bom senso de salvar a criançada do ridículo. Afinal ser adulto com certos nomes é uma temeridade.
Sinceramente, o que é mais bonito? Antonio ou Adannick? Deromir não parece nome de remédio? Por mais católico que seja, duvido que um jovem batizado nos anos 80 goste de ter o nome do papa João XXIII. Nome e sobrenome, diga-se de passagem. Aksonlenio? Cruz credo! Charlene teria sido uma homenagem a Charlene Sauro, irmã adolescente do Baby Sauro (Não é a mamãe.. lembram?), da série Família Dinossauro que passou nos início dos anos 90? E Cícero Érico? Dois nomes tão bonitos mas esse “roérico” que se forma na junção dos dois nomes é fatal. Clecinilton seria filho de Clécia e Nilton? Dante Judson, Clívia Kelly, Darbilene, afff... Cicerofram seria um mix de Cícero e framboesa para compor um nome mais ousado? Será parente de Elisafram? Que mistura será a origem de Deusineilo?
Imagino que deve gostar bastante de música e cinema quem homenageou Bo Derek e Dione Warwick. Só não sei se a pessoa gostou de ser batizada como Derek Warwick. Eliane e Carlos resolveram chutar o balde e atravessar a rima, batizaram o rebento com os nomes de trás para frente: Enaile Solrac. Isso é pecado! Mortal!
Será sorridente Francisco Esmayle? Tenho certeza que Gecica Kercia já nasceu perdoada. Pode pintar e bordar que o passaporte do céu está garantido. Levar a vida inteira um nome desses é uma provação. Glauder Kildare me lembra o seriado do início dos anos 60, Dr. Kildare, que eu assistia na TV - preto e branco - quando passava as férias em Fortaleza.
Quem matou Salomão Hayala, personagem do falecido Dionísio Azevedo, na novela O Astro, nos fins dos anos 70? Lembram? Os pais do Hayala devem ser fãs da Janete Clair.
Yuri Marx é muito pomposo. Já pensou? O cara deve ser um gênio. Uma mistura do primeiro homem a ir ao espaço com o filósofo alemão não é pra qualquer um. Janis Joplin Saara é páreo duro para John Lennon da Silva.
A letra K parece ser o passaporte para o delírio: Kailane, Kairos, Karisia Karen, Karita, Karla Hauanna, Karla Kelvia, Karlla Monnyky, Karlos Hadser, Karyane, Kassio Hermesson, Katiarine, Kauhana Hellen, Kedina, Kedina Suedina, Keila Verlange, Keithyanne, Kellton, Kelven Remy, Kelvia Kerly, Kerlanny, Kerliane, Kerty Hanslike, Kessia Rayane, Kesslly, Kezia Kelly, Khadidja, Kilson, Kuezia Miria, Kyslla.
Leidaiane simplifica a vida de quem não fala inglês. Os pais do Mário Gardell devem adorar o tango. Acrescentaram um “l” ao Gardel para ficar mais solene. Lutzenfannia deve ter sido o resultado de um surto do pai na hora do registro.
Com certeza, Maria Hojania pode ter sido um erro do funcionário do cartório. Michel Lino é judiação. Naftali é constrangedor, sempre tem um engraçado que acrescenta um “na” e deixa a garota com síndrome de anti traça. Existe algo mais pedante do que Phablo? Ou seria um Pablo metido a Fablo?
Tudo bem que no Ceará tem muitos Raimundos mas fazer a diferença acrescentando Jacksonneles é “viajar demais”. Rejelos Charles é um naufrágio. Tenho certeza que Rhemanuerick deve ter um apelido. Ninguém merece um nome desses. E Sirgner Roosevet? Dá pra não ser complexado?
“Pelamordideus”, os 365 dias da folhinha, cada um com um nome de um (a) santo(a) não é suficiente?
Voltemos aos nomes comuns, expressivos, bonitos. O que faz a diferença é a personalidade, o feeling, o astral, a educação, a desenvoltura. Não é uma combinação ridícula de letras e sons que passam ao largo da sensatez e obrigam o indivíduo a carregar a vida inteira o resultado de um desastre criativo dos seus pais na escolha do seu nome. Por melhor que seja a intenção.
ML

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