quarta-feira, 26 de setembro de 2007

QUINTO PECADO

Hoje, cheguei pra lá de Bagdá. Tive um dia pesado e me deu vontade de quebrar a rotina do blog. Não vou falar de receitas, vou falar de lembranças gastronômicas que evocam pessoas e afetividades. Já comi pão de ló de todo jeito. Em casa, padarias, cafés. Mas nenhum igual ao pão de ló feito por Águida, de Joaquim Henrique. O que fazia a diferença era Águida. Não importa a receita, importa o gosto da lembrança. Assim como as cocadas de Vicentina, o bolo do café de Dona Otília Sobreira, o biscoito da padaria de Doca Moreira, os pirulitos de mel em forma de chupeta e bichinhos, no tempo em que a gente nem sabia o que é vigilância sanitária. O gelinho raspado com xarope, vendido na feira de domingo, dá de dez a zero no sofisticado raspa-raspa vendidos nos shoppings e que tem um nome chic que não lembro agora. Mel de engenho com farinha, alfinin........ No quintal, perto da chaminé do engenho rudimentar, no sítio do meu avô, as mulheres puxavam alfinin, desenhando formas, tranças que descansavam sobre a toalha de mesa alva como o algodão preparado para fiar. Rapadura com lascas de côco. No sítio, era a liberdade. Podia tudo. Ou quase tudo. Era proibido o banho de açude durante a tarde para não gripar nem ter crises de garganta. O pior da crise de garganta não era a febre nem a dor. Era o terror de enfrentar uma penicilina na bunda e aquela colher dourada, de latão, de Seu Ernane Dore. “Abaixa a língua e diz Ahhhhhhhh......”. Essa dói. As inofensivas goiabas do Sítio Velho trazidas por João de Melo, existirá mais doce em algum outro lugar? A casca do queijo de coalho, assada na chapa do fogão de lenha, da casa de João Calixto . O carneiro que Zé Brasil fazia nas férias pra gente comer, lá no São Pedro. Depois todo mundo tomava macela para ajudar na digestão. A famosa sopa que Teresa de Zé Saraiva fazia e íamos tomar no intervalo das festas no Clube recreativo de Ipaumirim. Não lembro de ter comido sanduíche na minha infância. Coca cola era luxo de Fortaleza. Lá em casa, era guaraná - e olhe lá!!! - em dias especiais. E com bolacha Maria. Principalmente se tivesse doente. O torresmo do baião de dois da casa de tia Cristina. O chá da casa de Zenira. O cheiro da mesa no café da manhã, lá no São Pedro, na casa tio Sebastião. Cuscus, tapioca, leite quente. Galinha nas festas de casamento. E os almoços, nos sítios, que eram oferecidos ao Dr. Arruda? E eu lá, junto do deputado, desfrutando tudo. E as festas cívicas nas escolas radiofônicas da Diocese? O pessoal enfileirado e quando Dr. Arruda chegava, todo mundo cantava o hino nacional. E depois das declamações, era a comilança. Galinha gorda - nova e tenra, velha e dura - preferencialmente com farofa e arroz até fartar. Algumas reuniões menos pomposas, já na cidade mais evoluída, vinham pastéis e sonhos encrespados na gordura. Ninguém sabia o que era colesterol. E os bolos, tem coisa melhor no mundo do que bolo? Aqueles simples, sem recheio, sem chantily, sem calda. Só bolo. Xô morangos!!! A gente, nem em revista, conhecia morango. Não lembro de ter comido verduras, legumes ou tubérculos além de tomate, alface, coentro, cebolinha comprados na horta de Dona Júlia, mãe de Tutu, atrás da casa de Dona Uila. Batata, muita batata doce. No bolo, no doce, frita, cozida. Depois, foi chegando cenoura, chuchu e outras modernidades. Até que chegou a pizza, a coxinha, o hambúrguer, o colesterol, os triglicerídeos, o infarto......... tá na hora de parar. Já fiz minha sessão pública de psicanálise. Só os psicólogos agüentam esses extravasamentos. Ninguém merece.Para me redimir da exposição dessas intimidades, vou publicar um poema de um rapaz de Santa Inês, Maranhão. Eu não o conheço mas o poema foi enviado por Vânia Maria. O nome dele é Luís Henrique, filho natural de Santa Inês e Poeta da Terra, desenvolve um lindo trabalho com poesias nas escolas e é considerado um grande Amigo da Escola.

Mulheres, Mulheres...
Mulheres sobem ao poder
e têm o poder de seduzir
Sabem como convencer
Mulheres, Mulheres...
Mães, amigas, professoras, amantes,namoradas...protetoras
Mulheres representam no mundo
uma parcela do que existe de divino
Um homem reconhecerá no seu íntimo
ter um lado feminino
Se fosse possível traduzir
a essência da alma feminina...
Mas para não confundir
Mulher é uma beleza que fascina.
Fonte de inspiração dos poetas
embalando os sonhos meus
Simples, raras, modestas
A melhor criação de Deus
(Luiz Henrique)

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