quarta-feira, 10 de agosto de 2011


TARSO. Você admite censura a uma obra de arte?
LEILA. Pô, Tarso: de jeito nenhum, Foi o que perguntei aos censores: que tipo de preparo tem uma pessoas que vai julgar e censurar uma obra de arte? Eu não teria coragem de ser censor. Se eu fosse julgar uma obra de arte, eu teria de ser uma pessoa inteligentérrima, cultérrima, muito humana e muito por dentro das coisas. Censura é ridículo, não tem sentido nenhum. Do jeito que é feita, inclusive não tem nenhuma noção de justiça, cultura, nem nada. Foi julgada e censurada uma peça de Sófocles, lá no Teatro do Rio, não foi? É um absurdo. Procuraram até o Sófocles. Aí é fogo. Acaba com qualquer papo.

SÉRGIO. Na sua novela, a personagem foge com Zózimo Bobul. Na Europa, isso é moda há muito tempo. Eu pergunto: há alguma diferença sexual do negro pro branco?
LEILA. Eu só tive um homem negro E não vou comparar meu homens porque é sacanagem. Dizem que os negros têm mais potencialidade e etc. Eu acho que é a mesma coisa. Depende do cara. Nesse negócio não tem nada a ver. Tem uns que são bons de cama, chega lá e não combina. Esse negócio depende muito. O negócio é aquela ligação, está na pele.
JAGUAR. O Anselmo Duarte disse que…
LEILA. Ah, deixa eu falar do Anselmo porque ele disse um negócio muito lindo pra mim. Fiquei até com pena de não ter tido nada com ele em Congonhas. Ele disse que eu me dedicava muito aos homens. Ele é muito bacana e deve gostar muito de mim para dizer um negócio desses. Eu não sabia que ele gostava tanto de mim.
TARSO. Você não tiveram nem um casinho, não?
LEILA. Não , nada disso. Morremos de rir, nos divertimos muito, mas não tivemos nada. É difícil a gente se divertir sem ter nada, mas a gente consegue. E nós estávamos em Congonhas do Campo, hein. Mas eu estava namorando o Toquinho que ia me visitar de vez em quando, então eu tinha um treco certo, não é? E tinhas os “profetas” lá, qualquer coisa quebrava o galho. Saí de lá que não agüentava mais olhar pro Daniel.

JAGUAR. É bacana, não é?
LEILA. É bacana porque você não passou dois meses lá malandro. Eu abria a janela e dava de cara com os doze profetas. Eu (*) pra arte, ele estava gozando paca. Ele tem lojinha de pedra-sabão e sonhei a noite toda com corrente, coruja, profeta de pedra-sabão, tudo de pedra-sabão. Eu não agüento mais ver. Mas o Anselmo foi muito bacaninha: acontece que eu seria a maior mulher do mundo se eu me dedicasse aos homens, eu? Eu ainda não consegui isso, não; estou lutando pra isso. Talvez aos trinta anos assim…

JAGUAR. O PASQUIM vai aderir à sua luta. SÉRGIO. O que você achou da entrevista que ele deu à gente?
LEILA. O Anselmo é uma pessoa terrível. Tem uma inteligência meio primitiva. Mas é muito inteligente. E é muito gozador também. Quem manda o Anselm, sabe naquelas respostas, ele estava gozando paca. Ele tem histórias incríveis pra contar porque ele é muito agressivo. Tem, por exemplo, a história da namorada que ele tirou a dentadura. É um troço alucinante. Agora, é uma pessoa maravilhosa como todo o cafajeste. Todo cara que é cafajeste, no fundo é um bobo. Ele é terrivelmente (*), humano, bom paca, só faltava me pegar no colo, como Jece Valadão e todos os cafajestes que já conheci em minha vida. São uns anjos de pessoas.

TARSO. Você acha o Jece Valadão suportável?
LEILA. Eu adoro o Jece. Primeiro porque foi um cara que me pagou em dia. Fiz “Mineirinho, Vivo ou Morto” com ele. Ele chora paca, regateia paca. Mas se combinou aquilo contigo, ele te paga em dia, tranqüilo, te busca em casa, te leva em casa, etc. Ele é muito porreta pra trabalhar, um amor de pessoa. Ele está lá na dele: quer ganhar dinheiro, faz o cinema que ele sabe que vende. Não vejo os filmes dele, não, mas adoro ele.
SÉRGIO. Qual a sua opinião sobre o INC?
LEILA. É (*) você falar de um negócio que você está por fora. Eu não gosto. O Domingos está muito mais por dentro. Ah que vontade de ter um namoradinho nessas horas: ajuda, não é? O negócio é que você luta ou trabalha. Como não tem ninguém pagando pra você lutar, você tem que trabalhar. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo, não dá. Se você só luta, você vira marginal. Eu resolvi ganhar meu dinheirinho, ter meu apartamento, ter o homem que eu quiser, pagar minhas coisas, eu trabalho. E gosto. Do que eu se, o INC é muito sacana. Eu vi muita gente tomar atitude bacana, muita luta no Cinema Novo, que o INC não apoiou. O INC tem preconceito contra o Cinema Novo. A gente faz é cinema. E o INC não faz nada pelo cinema brasileiro que é a função dele. Só faz um festival (*) que eu acho uma (*).
TARSO. O INC é dirigido pelo Harry Stone: só beneficia o cinema estrangeiro.
LEILA. A gente está lutando por essa lei pra aumentar as semanas de filme nacional e os caras (*) e andam, nem querem saber. Só isso já da pra eu saber que os caras estão interessados em que nosso cinema se desenvolva. Ele só estão a fim de que sejam vendidos, vistos e gostados os filmes estrangeiro. Logo eles são uns filhos da (*).

SÉRGIO. E o que você acha dos críticos de cinema? O INC é dirigido por críticos: Moniz Vianna, Salvyano, etc.
Leila. Eu não leio críticas. Eles vão ficar (*) comigo, mas não leio. Eu quase não leio jornal. Leio O PASQUIM.

SÉRGIO. Nem as cotações JB?
LEILA.Não leio nada. Eu leio O PASQUIM porque é divertido, inteligente e são vocês que fazem que são meus amigos e contam coisas que me interessam. O resto, nem quero saber. Quanto às críticas dos filmes, palavras de honra, não é rancor, mas não gosto. Inclusive, parece que os críticos sempre livram a minha cara. Eu faço o maior filme (*) e dizem que eles livram a minha cara. Muito obrigada. Eu sou boa mesmo, não é? O crítico que for meu amigo vem bater papo comigo. O que me interessa é o que eu acho, o que o Domingos vai achar, o que o Nélson, o que vocês, os meus amigos vão achar. E o público, porque vai ver. O resto (*). Acho o crítico (*) porque é pessoal e só admito você ser pessoal pra amar. Qualquer coisa que o Jaguar faça, por exemplo, pode ser a maior (*) mas vou achar bom sempre. Porque eu gosto dele.

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