E ESPERO AMAR MAIS AINDA
JAGUAR. Eu também acho.
LEILA.Bacana que você ache. Bacana porque as pessoas não acharam tanto, não. Foi muito difícil entrar na do Nélson. Ele queria de mim justamente a minha abertura, a minha agressão, a minha alegria, a minha energia. No momento que te pedem isso na cara, você “zauze”, o que é que esse cara está querendo, qual é a dele? Eu nem conheci ele. Mas, depois eu entrei na dele, do meio do filme pra lá.
TARSO. Foi na época que você namorou o Arduíno?
LEILA. O meu treco com o Arduíno foi em, Parati. Mas eu não estava namorando ele, não. Estava namorando o assistente de câmera.
JAGUAR.Qual dos seus papéis que você gosta mais?
LEILA. Sei lá. Acho que é de “Todas as Mulheres do Mundo”, porque é um treco tão ligado a mim, que eu vejo com tanta ternura, tanto carinho. Eu sou muito (*) nessas coisas. Eu li o Frei Abóbora, picham mas eu chorei paca. Eu sou capaz de assistir novela e chorar. Eu choro em “Funny Girl”, eu choro paca. Então, “Todas as Mulheres do Mundo” tem tanta ligação comigo, tanta ternura, que é o papel que eu gosto mais.
SÉRGIO. Você sabe que convidaram a Shirlhey MacLaine pra ir num enterro e ela disse que não ia porque chora até em exposição de automóvel.
TARSO.Você disse que achava teatro chato. Eu também acho. Você ainda vai a teatro?
LEILA. Eu vou muito pouco. Geralmente eu durmo. Eu fui assistir a “Oh Que Delícia de Guerra” com a Marieta e ela me cutucava o tempo inteiro porque eu dormia e as pessoas faziam um (*) barulho em cena, não é? Eu dormia alucinantemente. Quando eu estou representando em teatro, tenho vontade de parar e fazer careta pra platéia e dizer: o que é que vocês estão aí me olhando, o que é isso?
JAGUAR. Mas você não está entusiasmada com esse “show”que você vai fazer no Poeira?
LEILA. Eu estava dizendo que sou uma pessoa sem sentido porque meu sentido é esse: eu gosto de me divertir, pô. Esse “show”, “Tem Banana na Banda”, vai ser divertídérrimo, Eu, Maria Gladys e Aninha – pode ter uma coisa mais engraçada? Millor, Maciel, uma patota que a gente adora, escrevendo. Eu vou me vestir de baiana, eu vou morrer de me divertir e isso vai me dar alguma coisa como atriz também.
JAGUAR. Vai ter ’strip-tease’?
LEILA. Não sei. Se tiver eu também faço, pô. Vai ser uma zona total. É como o negócio de fazer o filme em Parati. A gente foi fazer esse filme em Parati. A gente foi fazer esse filme em Parati e eu nem sei o quanto eu vou ganhar. Ainda nem fez o contrato. O filme já acabou e nós vamos dublar agora. Mas a gente estava em Parati. Era Nélson dirigindo. Arduíno, Bigode, Aninha, Isabel, cachaça, peixe, aquela zona; andar descalça, não pentear o cabelo, fazer cena do jeito que a gente resolve… Meu papel não existia, não é? Nélson inventou; ele inventa sempre um papel pra mim. Ele diz que agora eu vou estar sempre nos filmes dele porque ele gosta muito do meu estouro.
TARSO. Você gosta de mulher?
LEILA. Gostei de mim , quando fui tomar banho pelada da noite e tem aquela água que fica brilhando com a lua. Você quer morrer: fica com aquelas gotinhas prateadas no corpo; divina e maravilhosa. Parati é alucinante. Ainda mais com aquela patota.
TARSO. Você já foi, com “Todas as Mulheres…”, a atriz mais popular do cinema. E talvez ainda seja, hoje. Num país civilizado, você seria muito bem paga. E aqui. Você vive bem hoje?
LEILA. Realmente, aqui é fogo. A gente está num país tropical, azar o nosso. Esse negócio de atriz fazer sucesso não adianta. Eu sou muito (*). Eu não sei pedir, não sei ganhar dinheiro. Não nasci pra isso. Tem gente que nasce e sabe. Não sei fazer um contrato. Por exemplo: eu agora queria vir pro Rio. Nem sei quanto vou ganhar. O cara vai vir me oferecer menos que eu ganhava em São Paulo? (*): não sou bem paga, muito por minha culpa. Claro, é culpa da estrutura, etc. Mas minha também . Ioná, Regina Duarte, etc, ganham dinheiro. Eu não.
JAGUAR. Um agente não resolve esse problema, não?
LEILA. Deve resolver. Mas a gente enche
TARSO. Quanto você está ganhando por mês em média?
LEILA. Juntando televisão cinema e tudo, eu ganho uns dez milhões. Quando recebo.
TARSO. A televisão não paga em dia, não é?
LEILA. Antigamente, pagavam sempre. De uns três meses pra cá, eu ando muito (*) porque a Excelsior se (*) e eu junto. Nós fizemos mil reuniões em sindicatos, íamos fazer uma greve e tudo. Mas desistimos porque se fizéssemos, a Televisão fecharia. Eu acho muito muito chato porque televisão era o único meio da gente ganhar dinheiro. Em cinema é difícil porque quando a gente vai fazer cinema com gente que a gente gosta, são geralmente pessoas (*), Nélson, Domingos, etc. A gente sabe que essa patota não tem dinheiro. Por que é que eu vou cobrar? Não vou, claro. Quando eu faço um filme de alguém que tenha dinheiro eu cobro mais. Televisão que era nosso único meio agora está entrando pelo cano: tem muito poucas, a Globo, talvez a Tupi e um pouco a Record. Então, está (*). Pra entrar lá, você tem de (*) pra todo mundo. Ou então você tem de ser muito inteligente de arranjar um jeito, sei lá. Você vê atores geniais trabalhando por uma (*). Mas não ganho maravilhosamente bem quanto poderia.
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