quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Leila Diniz é chapinha d’O PASQUIM e sua entrevista é mais do que na base do muito à vontade. Durante duas horas ela bebeu e conversou com a equipe de entrevistadores numa linguagem livre e, portanto, saudável. Seu depoimento é de uma moça de 24 anos que sabe o que quer e que conquistou a independência na hora em que decidiu fazer isto. Leila é a imagem da alegria e da liberdade, coisa que só é possível quando o falso moralismo é posto de lado.

SERGIO CABRAL. Qual é o autor com quem você gosta de trabalhar?
LEILA. Paulo José. Essa é mole de responder.
TARSO DE CASTRO. Seu primeiro filme foi o do Domingos não foi?
LEILA. Todo mundo pensa que, de repente o Domingos botou essa mulherzinha lá pra trabalhar e foi a glória da vida. E realmente o Domingos foi a glória da vida, foi porreta paca fazer o filme. Mas antes eu fiz dois filmes: aquele alucinante “O mundo alegre de Helô” e um da Silvia Piñal, do Alcoriza. Um que fazia a empregadinha. Como é que chama? Do Luiz Alcoriza, aquele cara que foi assistente do Buñuel. O filme era uma (*) incrível. O nome era “Jogo Perigoso”. Tinha dois episódios e eu fazia um deles. Quando Domingos resolveu fazer “Todas As Mulheres do Mundo”, eu já estava existindo mais como atriz.

TARSO. Mas você passou muito tempo sendo a mulherzinha do Domingos, professorinha, etc.
LEILA. Não foi muito tempo, não. Eu comecei com o Domingos lá por 62, fins de 61. Me lembrar de data é (*) pra mim. Eu era professora mas zoneava bastante por aí. Eu conheci o Domingos porque namorava um rapaz de teatro, o Luis Eduardo. Naquela época, ele estava fazendo a peça do Domingos. “Somos Todos do Jardim de Infância”. Eu estava voltando ao namorinho com o Luis Eduardo mas conheci o Domingos e dei aquela decisão. Durante a peça, eu já estava na do Domingos, não é? Daí a gente juntou, teve aquela zorra toda…Porque eu sou solteira, não é? Sou casada (*).b Eu fiquei com o Domingos sendo professora, e ainda estudando porque estava fazendo o clássico à noite. Eu ensinava de dia. Fiquei com o Domingos uns três anos, durante um ano e meio eu ainda era professora, depois já era atriz. Como a gente era muito duro, o Domingos escrevia para a “Manchete”; jornal (*) a quatro, escrevia peças e aquelas coisas, a gente não ganhava dinheiro nenhum e eu ganhava pouco também como professora, então fui fazer anúncio.. Trabalhei numa agência de modelo e fiz figuração de filme pra (*), aqueles filmes americanos todos alucinantes. Ganhava um dinheiro por fora. Não foi através do Domingos. Entrei fazendo ponta em Grande Teatro Tupi, Teatrinho Trol e etc. Puxa! Teatrinho Trol naquela época! Eu acho que estou ficando velha. Bem , aí fiz “Todas as Mulheres do Mundo”; quando a gente fez o filme, já estava separado.
TARSO. Você prefere fazer cinema ou novela de televisão? Porque cinema é meio chato, demorado.
LEILA. Que isso? Você está falando isso pra me provocar ou acha mesmo? Cinema é a glória. Olha, Tarso, às vezes , as pessoas gostam de dizer: isso não tem sentido. Eu gosto pra (*) de fazer novela e de fazer cinema. Pra mim, não tem a menor importância representar Shakespeare, Glória Magadan ou o que quer que for, desde que me divirta e ganhe dinheiro com isso.

JAGUAR. Você acha que teatro é um saco?
LEILA. Acho que teatro é um saco. Mas não posso dizer isso porque nunca fiz um troço porreta em teatro! Só fiz papelzinho, papel pequeno. Eu comecei em teatro. Eu comecei com a Cacilda. Ela veio ao Rio fazer “O preço de um Homem”, o Vaneau fez teste e eu fiz . Foi em 64. Eu vou fazer 5 anos de atriz.
JAGUAR. Com quantos anos você está?
LEILA.Vinte e quatro. Bem: eu entrei com a Cacilda. Quando entrei, eu não manjava muito da coisa. Entrei porque não tinha ninguém. Era muito fácil fazer teste: não tinha mais ninguém concorrendo. Entrei lá muito de alegre, chorava pra (*) em cada ensaio: “Não sei fazer isso, é (*), etc. Entrava em cena morrendo de pavor, mas acho teatro chato: aquela coisa de fazer toda a noite a mesma coisa. O que eu acho bacana em cinema e televisão é isso: eu me divirto muito, trabalhando. Geralmente, faço uma zona incrível onde eu trabalho e trabalho sempre com gente que eu gosto. O meu critério de escolha é esse: eu não escolho por peça, autor, diretor ou papel. Escolho pela patota e pelo que eu gosto. Por exemplo: Fiz um filme de cangaceiro agora e muita gente disse: que é isso Leila, filme de cançago, troço cafona, você é louca. Pois foi a glória da vida. Eu tinha o maior (*) de fazer filme de cangaço. Achei sensacional. Trabalhar com o Domingos, por exemplo, é divertidíssimo. “Todas as Mulheres” foi muito duro. A gente estava separado só um ano, ainda estava naquela fase de xingar: filho da (*), seu cornudo, foi você que foi culpado, não foi, foi você, aquela zorra.

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