segunda-feira, 13 de junho de 2011

Manifesto pela volta do macho útil - parte I (Xico Sá)

(Ou Das serventias esquecidas de um Homem)



Queremos voltar a ser úteis, imploro, repito. Queremos prestar de novo. Mulheres, escutem o nosso grito. Ouviram do Ipiranga, da Pampulha, do Capibaribe, das margens do Jaguaribe? Ouviram?
Não se trata de mais uma cantada genérica. Cantar é fácil. Qualquer mané o faz. A grande arte de um homem começa quando a cantada dá certo, ouviram, rapazes? Sim, o feitio de oração, o devotar-se, como insisto aqui nesta campanha permanente.
E nesse quesito, amigos, quem mais se aproxima da nota dez é quem atende todos os pedidos, ou quase, da cria da sua costela. Mesmo que seja uma daquelas gazelas que adoram ser mimadas 24 horas, filha única, carente, voz manhosa de Marilyn Monroe no faroeste “Os Desajustados”.
Porque só Marilyn, não por ser loira, mas pelo estilo da fala, sabe ensinar como obter tudo de um homem.
Ainda mais nesses tempos de hoje, em que perdemos praticamente a utilidade. Não vamos muito além da velha troca do chuveiro queimado ou da lâmpada. No restante dos ofícios, elas possuem dotes e consolos materiais e filosóficos. Nem a massagem do cansaço noturno passa mais por nossas mãos rudes –tem sempre um japa do ramo que já resolveu a parada antes.
Nesse critério, de nos tornar um pouco úteis, de deixar o macho se sentindo vivo e importante, queremos a chance de saber que na vida ainda existe almoço de graça. Deixem que o homem pague, mesmo que você seja aquela super-poderosa mulher que comanda uma plataforma de petróleo ou que tenha nascido da costela do Onassis.
Queremos voltar a ter a chance de atender os seus pedidos. Uma das maiores virtudes de uma fêmea é arte de pedir, não acha?
Como elas pedem gostoso.
Como elas são boas nisso.
Resistir, quem há de?
Um simples “posso pegar essa cadeira, moço?” vira um épico. É o jeito de pedir, o ritmo caliente da interrogação, a certeza de um “sim” estampado na covinha do sorriso.
Pede que eu dou, meu amor, eis o mantra aqui repetido.
Pede todas as jóias da Tiffany´s, minha bonequinha de luxo!
Estou pedindo: pede!


Pela utilidade do homem - final
Estimado mulherio, é hora de reiniciar o macho.
Uma chance na terra aos homens de boa vontade. Queremos ser úteis, não estes malditos seres obsoletos e infantis.
Pela serventia do macho. Nem que seja apenas como toscos lenhadores que abastecem a casa de lenha durante o rigoroso inverno.
Nem que seja de forma fingida como um orgasmo, rogamos por esta nova oportunidade.
Repito: mirem-se na pedagogia da Marilyn Monroe entre os seus dois cowboys no filme "Os Desajustados".
Como ela sabia pedir gostoso e tudo conseguia de um homem.
Eu imploro, eu lhe peço todos os seus pedidos mais difíceis.
Pede Channel, pede Louis Vuiton, pede que eu compro nem que seja no camelô.
Não me pede nada simples, faz favor.
Casa, comida, roupa lavada e Bilhete Único? Pelamor. É pouco.
Já que vai pedir, que peça alto. Você merece.
Como é lindo uma mulher pedindo o impossível, o que não está ao alcance, o que não está dentro das nossas posses.
Podemos não ter onde cair morto, mas damos um jeito, um truque, um cheque sem fundos.
Até aqueles pedidos silenciosos, quando amarra a fitinha do Senhor do Bonfim no braço, são lindamente barulhentos.
Homem que é homem vira o gênio da lâmpada diante de uma mulher que pede o impossível.
Ah, quero o batom vermelho dos teus pedidos mais obscenos, como um Wando, como o poeta mais brega ou como o T.S.Eliot.
Quero o gloss renovado de todas as vezes que me pede para fazer um pedido, assim, quase sussurrando no ouvido: “Amor, posso te pedir uma coisa? Posso mesmo?”
Um castelo na Inglaterra?
Sim, eu dou na hora.
Sim, eu opero o milagre.
Como no pára-choque, o que você pede chorando que não faço sorrindo?!
Pede, benzinho, pede tudo.
Que eu largue a boemia, pare de beber e me regenere???
Pede, minha nega, que o amor tudo pode.
Mesmo as que têm mais poder de posse que todos nós não escapam de um belo pedido.
Com estas, as mais poderosas, tem ainda mais graça. Elas pedem só por esporte, o que não lhes comprometem a pose e muito menos a independência.
Não é questão de poder ou dinheiro.
O charme e o que importa é o pedido em si, o romantismo que há guardado no ato.
Os melhores cremes da Lancôme? Vou a Paris agora. Estou pronto.
Eu lhe peço: me pede.
Fonte: http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/arch2011-05-15_2011-05-21.html

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