Não sejas assim. Quantas vezes já
aconteceu? Uma. Outra. Depois outra. E outra. E ainda outra. E mais
outra. Não aprendes. És incapaz de aprender. Estás fora do tempo. Olha o
Twitter. 140 caracteres. Nem mais um. Olha as sms. Frases curtas.
Palavras abreviadas. Toda a gente lê até ao fim. E percebe. Excepto os
velhos do Restelo. A esses as abreviaturas confundem-nos. Resmungam.
Protestam. Dizem que o mundo está perdido. k patético. Mas pronto. São
poucos. Vão morrendo. Se queres relevância, usa frases curtas. Sem
vírgulas. De preferência. Fundamental é que sejam curtas. Arranja poder
de síntese. Ideias também curtas, se necessário. Não te será difícil. Já
o fazes com regularidade. Através de frases compridas. Aprende. Tudo
curto. Que seja o teu mantra. Tens coisas curtas. As erradas. As que
deviam ser compridas. Enfim. Tudo trocado. Esquece os parêntesis. E os
travessões. Sê sucinto. Melhor: sê breve. Tem menos letras. Um ponto
final por cada conjunto de quarenta caracteres. No máximo. Sim,
quebraste a regra ao defini-la. És incorrigível. Depois ninguém te lê.
As pessoas não querem frases compridas. Não querem frases com montes de
orações coordenadas. Mal coordenadas. As pessoas têm dificuldades de
coordenação. Têm de coordenar a vida profissional com a familiar. O
horário do emprego com o dos transportes. As despesas com o rendimento.
Também não querem sequências de orações subordinadas. Andam subordinadas
todos os dias. Estão fartas de subordinarices. Sujeito. Tu. Ele. Cães.
Gatos. Nada de hipopótamos. Ou de ornitorrincos. Letras a mais. Fala do
Passos e do Costa. Esquece o Tribunal Constitucional. Demasiado
comprido. Difícil de pronunciar. Cheio de velhos do Restelo. Verbo. Ser.
Estar. Fazer. Ir. Vir. Tens sorte. São quase todos curtos. Complemento.
Curto. Como os de ordenado. Excepto em certas empresas. E em certos
cargos. Esquece. Mas curto. Evita adjectivos. Já o devias fazer nas
frases longas. Evita advérbios de modo. Obviamente. Evita termos pouco
comuns. Ainda que sejam curtos. Sê breve. Não conciso. Odeia. Não
execres. Torna as pessoas felizes. Facilita-lhes a vida. Ler é cada vez
mais difícil. O tempo aperta. A concorrência é enorme. O Facebook. O
Instagram. A Casa dos Segredos. As opiniões do professor Marcelo. Frases
curtas. Fundamental. Desde que não pareçam poesia. Ninguém lê poesia.
Mesmo que tenha frases curtas. O que é frequente. A poesia é como o sexo
oral. Não. Não posso explicar. Exigia uma frase comprida. Pronto. Está
bem. Eu explico. E mostro como se pode ser sintético. Raios. Breve.
Breve é que é. Mas então. Gosta-se do conceito. Aborda-se com ligeiro
temor. Parece um mundo à parte. Uma lógica estranha. Uma forma errada de
usar as palavras. Uma forma blasfema. Aprende-se a gostar. Mas há quem
não consiga. E quem nem queira experimentar. Basta de analogias. As
analogias fazem pensar. Não faças pensar. Afirma. Nega. Sê claro. Sê
breve. Não te armes em intelectual. Os intelectuais são um cancro. Não
te armes em político. Os políticos são outro cancro. Maior. Uma ideia
tem de passar em poucas palavras. Repara no teu texto de ontem. O do
cão. Ridículo. Todo ele. Mas em especial o comprimento das frases.
Complicadas. Com derivações. Comentários. Repetições. Exageros.
Tentativas de humor. Esquece. Frases curtas. Ou então desiste. Não se
perde muito.
Ah. Mais uma coisa. Não basta que as frases sejam curtas. É fundamental que todo o texto o seja.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
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