segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Velhinhos e crianças

          

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Aprender, acumular e repassar para os mais novos.
Essa foi a receita básica que fez dos humanos o que são.
Essa nossa habilidade desenvolvida lentamente de conseguir guardar as coisas que íamos descobrindo e ir deixando tudo de herança para os descendentes, para que eles não precisassem aprender tudo do zero de novo. A cada nova geração, a largada era um pouquinho a frente.
Mas esse plano não funcionou durante muito tempo por um simples motivo: morria-se cedo demais.
Mal dava tempo de aprender alguma coisa, quanto mais passar para os filhos. O Piteco descobria como matar o mamute, mas morria muito antes do seu filho crescer o suficiente para entender.
Longevidade foi o primeiro obstáculo a ser ultrapassado para que a informação pudesse ser transmitida (oralmente pela maior parte da história) de uma geração para a outra.
Fazendo uma linha do tempo desde que estamos andando por esse planeta até hoje, dá para perceber dois períodos importantes em relação a longevidade. O segundo foi nos últimos 150 anos, em que a expectativa de vida DOBROU na maioria dos países. E a primeira foi há 30 mil anos, quando inventamos os velhinhos. Sim, não existiam velhinhos antes disso. O normal era morrer com uns 30 anos. E isso a gente sabe porque os antropólogos são craques em dentes enterrados por aí e conseguem avaliar a idade de seus donos na época que morreram baseado em desgaste e camadas de dentina, como fazemos com as camadas em troncos de árvores. É fato: não se passava dos 30. Não existiam cabelos brancos.
E sabe por quanto tempo isso? 3 MILHÕES de anos. Nascia, pumba, morria. Nascia, pumba, morria. Por milhões e milhões de anos foi assim. Ia contar do mamute, pumba, morria.
Até que veio essa fase, 130 mil anos atrás, em que os velhinhos foram inventados. Foi de uma hora para outra. E a explicação é que não foi uma causa biológica, mas sim cultural. Provavelmente o ser humano aprendeu a se enfiar em cavernas, a plantar e a guardar alimentos. E assim, começaram a viver por muito mais tempo.
A vantagem foi global e nnao apenas para os indivíduos que viviam mais tempo. Os “velhinhos” foram nossa primeira internet, o primeiro depósito de informações com vida útil suficiente para ser retransmitida.
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Nosso primeiro hiperlink
Sabiam como enfrentar desastres naturais, como plantar, quem era parente de quem. Foram os primeiros professores. E não era só isso. 30 anos é mais ou menos a idade mínima para conseguir ser avô e portanto as crianças começaram a contar com mais gente cuidando delas.
Depois de 3 milhões de anos como animais, os velhinhos foram inventados e inventaram a civilização. E possibilitaram essa tela que está na sua frente, cheia de letrinhas que te contam o que muitos precisaram viver para você poder aprender agora, em horas.
O segundo periodo, o dos últimos 150 anos, são baseados no lado oposto da balança: as crianças. Não podemos dizer que foram inventadas nessa época, mas quase dá para dizer que foram viabilizadas. Antes, a probabilidade de sobreviviencia dos recém nascidos
era algo entre 1/4 e 1/2 dos bebês. Praticamente de cada 2, só um crescia. Até o século 20, a maioria das mortes da população acontecia entre crianças e não entre os velhinhos.
A situação era tão brava que em muitos países não se dava nome aos recém-nascidos antes deles completarem 100 dias, para que os pais não se apegassem muito. Basta um passeio por algum cemitério de algum país mais antigo para ver que são cheios de leapides pequenas, de crianças. geralmente, enterradas ao lado da mãe que também morria com frequência na hora do parto.
o historiador francês Philippe Ariès conta que é difícil hoje imaginar como era a relação entre os adultos e as crianças. Não se investia emocionalmente em crianças porque metade iria morrer. Histórias inimagináveis para os nossos padrões como infanticídios, trabalho infantil quase escravo e abusos de toda forma eram comuns. E é por isso que se diz que a “INFÂNCIA”, como a conhecemos, foi inventada há apenas 150 anos.
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Hoje, a taxa de mortalidade infantil nos Estados Unidos é de 0.6%. Muito diferente dos 50% de bem pouco tempo atrás. E com as crianças morrendo menos, demos uma nova turbinada na sociedade, inclusive no andar dos velhinhos.
Enfim, concluíndo: em primeiro lugar, agradeça por estar vivo hoje. Entre bilhões de vidas, a sua é privilegiadíssima.
E em segundo lugar, repense a maneira como você enxerga (e trata) os mais velhos. Não apenas por respeito e educação, mas pelo valor inestimável que possuem. Sabedoria de quem viveu mais, experiências acumuladas e uma internet de informação e inspiração à disposissnao para ser repassada e reciclada. Bendito o povo que cuida de suas crianças e seus velhinhos. Nós, a turma do meio, temos mais é que ralar e honrar essas pontas.
 
[imgs linerpics, Elzbieta Sekowska/ Shutterstock]
[via]
Founder at Update or Die
Profissional de criação e fundador do Update or Die.
Fonte:http://www.updateordie.com/2013/09/09/velhinhos-e-criancas/#more-96532  

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