sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Entrega

Este estado de vulnerabilidade em que ficamos quando acordamos com predisposição para o amor. Esta lamechice de subitamente tudo aparentar a perfeição, nenhuma nota está desafinada, há rimas por todo o lado, a luz tem o ângulo certo, toda a palavra é lúcida e expressiva e não há olhar cruzado com o meu que não seja a confirmação de que gravitamos numa harmonia mais ou menos consentida, mais ou menos frágil, mais ou menos fértil.
E perdoar. Perdoar, perdoar, perdoar, perdoar, perdoar. Sem esforço nem cansaço. Perdoar o arrumador e perdoar a dolorosa causa de haver arrumadores. Perdoar quem me atropela porque vai com pressa e perdoar a inútil motivação de tanta pressa. Perdoar os hospitais e os cemitérios e perdoar a imperfeição que os inventou. Perdoar mentiras, desacatos e desvios e perdoar o desamor que os despontou. 
Estender-me devagar ao longo do dia, como quem vai para a cama com o universo inteiro e como se fosse a primeira vez, como se eu não soubesse rigorosamente nada, o que se faz, onde se toca, do que se gosta. Mas confiando, de olhos fechados. E terminar, extasiada, sussurrando um verso que cante a grande mentira da Eternidade.
É assim este estado de vulnerabilidade em que ficamos quando acordamos com predisposição para o amor. Esta lamechice de subitamente tudo aparentar a perfeição. Entregamo-nos acreditando.
Amanhã, pode acontecer que acorde descrente e até esquecida de tudo isto. Mas grávida.
Fonte: http://maepreocupada.blogspot.com.br/

Nenhum comentário: