Este
estado de vulnerabilidade em que ficamos quando acordamos com
predisposição para o amor. Esta lamechice de subitamente tudo aparentar a
perfeição, nenhuma nota está desafinada, há rimas por todo o lado, a
luz tem o ângulo certo, toda a palavra é lúcida e expressiva e não há
olhar cruzado com o meu que não seja a confirmação de que gravitamos
numa harmonia mais ou menos consentida, mais ou menos frágil, mais ou
menos fértil.
E
perdoar. Perdoar, perdoar, perdoar, perdoar, perdoar. Sem esforço nem
cansaço. Perdoar o arrumador e perdoar a dolorosa causa de haver
arrumadores. Perdoar quem me atropela porque vai com pressa e perdoar a
inútil motivação de tanta pressa. Perdoar os hospitais e os cemitérios e
perdoar a imperfeição que os inventou. Perdoar mentiras, desacatos e
desvios e perdoar o desamor que os despontou.
Estender-me
devagar ao longo do dia, como quem vai para a cama com o universo
inteiro e como se fosse a primeira vez, como se eu não soubesse
rigorosamente nada, o que se faz, onde se toca, do que se gosta. Mas
confiando, de olhos fechados. E terminar, extasiada, sussurrando um
verso que cante a grande mentira da Eternidade.
É
assim este estado de vulnerabilidade em que ficamos quando acordamos
com predisposição para o amor. Esta lamechice de subitamente tudo
aparentar a perfeição. Entregamo-nos acreditando.
Amanhã, pode acontecer que acorde descrente e até esquecida de tudo isto. Mas grávida.
Fonte: http://maepreocupada.blogspot.com.br/
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