Certos endinheirados são ridículos vocacionais.
Não conseguem usufruir da fortuna, por vezes circunstancial, com simplicidade,
com naturalidade ou de maneira vagamente divertida. Em artigo levado às páginas
desta quarta (2), o repórter Elio Gaspari analisa o fenômeno aplicado às
incursões européias de Sérgio Cabral e sua caravana de assessores e amigos.
Disponível aqui,
o texto vai reproduzido abaixo:
"Vergonha, essa é a sensação que resulta
dos vídeos das vilegiaturas parisienses do governador Sérgio Cabral em 2009,
acompanhado por alguns secretários e pelo empreiteiro Fernando Cavendish,
dono da Delta.
Uma cena pode ser vista com o olhar do casal
que está numa mesa ao fundo do salão do restaurante Luís XV, no Hotel de France,
em Mônaco. (“Este é o melhor Alain Ducasse do mundo”, diz Cabral,
referindo-se ao chef.) Ela é uma senhora loura e veste um pretinho básico. A
certa altura, ouve uma cantoria na mesa redonda onde há oito pessoas. Admita-se
que ela entende português. O grupo comemora o aniversário de Adriana Ancelmo, a
mulher de Cabral, e festeja o próximo casamento de Fernando Cavendish. Até aí,
tudo bem, é vulgar puxar celulares no Luís XV e chega a ser brega filmar a cena,
mas, afinal, é noite de festa. A certa altura, marcado o dia do casamento,
Cabral decide dirigir a cena:
“Então, dá um beijo na boca, vocês
dois.”
Cavendish vai para seu momento Clark Gable e o
governador diz à mulher do empreiteiro:
“Abre essa boca aí.”
As cenas foram filmadas por dois celulares. Um
deles era o do dono da Delta.
Na mesma viagem, Cavendish, o empresário George Sadala, seu vizinho de avenida Vieira Souto, e concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretários de Saúde e de Governo do Rio (Sérgio Cortes e Wilson Carlos), estão no restaurante do Hotel Ritz de Paris. Até aí, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões, estão embriagados. Fora do expediente, nada demais. Inexplicáveis, nessa cena, são os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem tiver uma explicação para o adereço.
O álbum fecha com a fotografia de quatro
senhoras gargalhantes, no meio da rua, mostrando as solas de seus stilettos
(duas vermelhas). Exibem como troféus os calçados de Christian Louboutin. Nos
pés de Victoria Beckam (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles têm a sua
graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade. Não
é à toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaré
Crazy Horse.
As cenas constrangem quem as vê pela breguice. Até hoje, o ex-presidente José Sarney é obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se locomoveu numa de suas viagens a Nova Iorque. (Não foi ele quem mandou alugar o modelo.) A doutora Dilma explicou que não foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso das vilegiaturas de Cabral, a breguice não partiu dos organizadores da viagem, mas da conduta dele, de seus secretários e do amigo empreiteiro.
Esse tipo de deslumbramento teve no
governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novíssimos
ricos do Brasil emergente. Noutra ponta dessa classe está o senador
Demóstenes Torres, comprando cinco garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de
1947: “Mete o pau aí. Para muitos é o melhor vinho do mundo, de todos os
tempos (…). Passa o cartão do nosso amigo aí, depois a gente vê”. O amigo
do cartão era Carlinhos Cachoeira, que, por sua vez, também era amigo da
empreiteira Delta, de Cavendish.“
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