domingo, 4 de abril de 2010

A minha teoria sobre a idade

Cada pessoa tem a sua idade. Isto não tem nada a ver com quantos anos se tem. Falo de uma idade cósmica, uma idade com que já se nasce.
Há pessoas de 50 anos, ou 60, que parecem nunca ter tido outra idade. Vê-se que estão confortáveis na sua pele, na plenitude da sua força e da sua beleza. Não que pareçam mais novas: parecem a idade que têm, mas não poderiam parecer melhor. Nem as conseguimos imaginar mais jovens.
Outras pessoas, com 30 anos, estão demasiado velhas. Têm um cansaço no olhar, uma nostalgia dos seus melhores dias, que já estão irremediavelmente perdidos no passado.
Mas também há quem, com a mesma idade, se comporte como uma criança, ou melhor, como um ser humano incompleto, em construção. Julgamo-los, muitas vezes, como irresponsáveis, ou mesmo pérfidos, o que é injusto. O que se passa é que estes adultos inacabados só têm em funcionamento parte das suas aptidões, muitas vezes de forma rudimentar.
Há porém casos de jovens de 20 anos, ou menos, que atingiram a maioridade plena. Não lhes falta nada, fisica ou intelectualmente. Sabem o que querem e para onde vão. Sabem quem são, e nós sabemos quem eles são. No futuro, não se modificam significativamente. Entram em estabilidade ou em decadência. Na melhor das hipóteses, refinam os seus atributos. Mas continuam os mesmos. Terão 20 anos a vida inteira, por mais que envelheçam.
De um modo geral, é muito fácil reconhecer a idade de uma pessoa, independentemente dos anos que tem. É como os carros: um Mustang de 1973 será sempre mais jovem do que um Bentley de 2008. Mas para quem não tem experiência disto, comecemos pelos mortos: com que idade uma pessoa se registou na nossa memória? Que fotografia conservamos?
É claro que esta minha teoria é tão verdadeira (mesmo que ainda não seja reconhecida oficialmente), que muitas pessoas cometem a coerência de morrer precisamente na sua idade cósmica. Conhecemos James Dean, Lord Byron, Mozart ou Bocage pelos seus retratos jovens porque eles desapareceram jovens. Mas outros há que continuaram a viver muito para além da sua idade. Veja-se o caso de Mick Jagger. Alguém duvida de que ele tenha 20 anos, apesar de todas as rugas?
Agora pense-se, sei lá, em Freitas do Amaral. Alguma vez teve 30 anos? Seria patético. A verdade é que teve, embora já nessa altura andasse na casa dos 60. Mais tarde, ficou mais jovem, e até virou à esquerda, embora isto não tenha nada a ver com posições políticas.
É verdade que Salazar era velho e Álvaro Cunhal era jovem, não obstante ambos terem vivido muitos anos e sobrevivido aos ideais que defenderam até à morte. Mas não é menos verdade que Bush parece um menino ao lado de Hillary (Obama é da idade de Mick Jagger, sem as rugas).
De um modo geral, os mais jovens tendem a ser artistas e os mais velhos gestores, ou políticos. Mas há quem tenha tido a maioridade na infância, e também quem esteja predestinado para a atingir mais tarde, numa idade a que nunca chegará. Estes velhos sábios merecem todo o respeito.
Fonte: http://reporterasolta.blogspot.com/

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