"Noto como intelectuais, escritores e homens afins se assemelham ao
cidadão comum no que se refere a considerarem as mulheres uma coisa à parte (ainda
que não exactamente, ou não sempre, com um intuito discriminatório).
Quando denunciam a seu espanto, a sua estranheza, a sua admiração, a sua
permanente perplexidade com as mulheres parece-me que estão, com frequência, a
revelar o quão pouco ou distantemente convivem com a variedade feminina.
Não há isso de as mulheres
serem assim ou pensarem assado. As mulheres não são um grupo homogéneo, como os
homens o não são. Não são mais agrupáveis entre si do que com homens. É
possível agregar pessoas por graus de afinidade psicológica, mas disso não
resulta que tenhamos mulheres aqui e homens ali.
Quando Pedro Mexia escreve que «o gosto das mulheres nem sempre é
compreensível, mas raramente é infundado» não está (e ele sabe disso) a falar das mulheres, mas
de algumas mulheres, daquelas que lhe são próximas, física, intelectual, ou,
diria, oniricamente.
Quase tudo o que os escritos masculinos sobre mulheres dizem pode ser
aplicado com propriedade — e não necessariamente com promiscuidade — a uma
quantidade não desprezível de homens. As mulheres são apenas, tradicionalmente,
convencionalmente, o outro mais
confortável para a discorrência masculina. (Não raro são o biombo de outro outro, mas isto já é derivar.)
Séculos de confessionalismo masculino sobre as mulheres resultaram
nisso a que também se chama poesia, uma espécie de obscurantismo de divã que, em
obediência a uma teoria institucional da arte (masculina, naturalmente), foi como arte validado."
Rui Ângelo Araújo
Fonte: http://www.canhoes.blogspot.pt/2014/09/os-homens-sobre-as-mulheres.html#links
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