Açude Senador Epitácio Pessoa, 100 anos de Glória e decadência
por: José Antonio de Albuquerque
No próximo
ano, 2015, em 16 de abril, uma quinta-feira, o Açude Senador Epitácio
Pessoa, conhecido popularmente como Açude Grande, inicialmente
denominado de Açude Cajazeiras, completará 100 anos de existência. No
local onde foi construído já existia um velho açude em terras
pertencentes à família Rolim, formado por duas barragens, nos braços do
Riacho Caieira, pouco abaixo da junção dos Riachos Boi-Morto e Casemiro,
que completam a bacia hidrográfica do açude. Quase no centro destas
duas barragens estava a casa da fazenda dos pais do Padre Rolim,
fundadores da cidade, Vital de Sousa Rolim e Ana de Albuquerque, que foi
destruída para dar lugar ao que é hoje o Cajazeiras Tênis Clube.
A seca de
1915 obrigou autoridades locais a se mobilizarem no sentido de dar
serviço a cerca de mil flagelados. E foi diante do quadro triste e
desolador da seca, que arrastava consigo um inseparável quadro de
miséria, uma multidão de famintos, maltrapilhos, seminus, magros,
anêmicos e caquéticos formavam um quadro dantesco e cruel, que no dia 27
de dezembro de 1915 foram iniciadas as obras do Açude Grande.
Dom Moisés
Coelho, que nascera no dia 8 de abril de 1877, ano de outra grande seca,
acabava de tomar posse na recém criada Diocese de Cajazeiras, como seu
primeiro bispo, em 29 de junho de 1915. Defrontou-se com esta grande
seca e começou a tomar as providências no sentido de minorar a situação
aflitiva dos flagelados da seca. Dirigiu-se a diversas autoridades,
dentre elas o Presidente da República e aos bispos e padres amigos de
diversas regiões do País. O clamor do Bispo foi ouvido pelo Vigário
Geral da Diocese de Fortaleza, Monsenhor Melo, que enviou ao Bispo de
Cajazeiras para socorro aos famintos cinco contos seiscentos e um mil
reis (5.601$000); a Associação Comercial da Paraíba enviou trezentos mil
reis (300$000) e o Bispo do Ceará mandou quatro contos, quinhentos e
sessenta e cinco mil duzentos e noventa reis (4.565$290). Estes
donativos foram distribuídos pelas paróquias e o restante foi reservado
para melhoria no Açude de Cajazeiras.
Cajazeiras,
em 1915 era considerada uma das mais importantes cidades do interior,
não só pelo comércio, mas principalmente pela sua população que já
atingia cerca de 4.000 habitantes e já possuía 458 casas. O governo não
podia fechar os olhos para uma cidade onde se aglomeravam muitos
flagelados.
Muito embora
não existissem estudos e projetos mais profundos na “Inspetoria de
Obras Contra as Secas” para construção de um açude em Cajazeiras a única
maneira que encontraram para solucionar o problema foi aproveitar o
velho açude cujas paredes eram de terra, mal construída e já em péssimas
condições, com um comprimento de 150 metros com 5 metros de altura e
outra construída de alvenaria de pedra e cal, que servia de sangradouro,
que fechava o braço direito do riacho.
A Câmara
Municipal, na Sexta legislatura, (1913-1917) composta dos vereadores
Joaquim Gonçalves de Matos Rolim, Juvêncio Vieira Carneiro, Emídio
Assis, Joaquim de Sousa Rolim Peba, Henrique Gomes Leitão, Emídio Tomaz
de Aquino, Martinho José Barbosa, Emiliano de Oliveira e Sousa e Joaquim
Lima de Sousa Madeira também se engajou na luta pela construção do
açude para dar amparo aos flagelados da seca.
Depois de
muitos estudos, no dia 18 de novembro de 1915 foi formada uma comissão
construtora, tendo como chefe o engenheiro José Francisco Coelho
Sobrinho, que hoje é nome de uma das mais antigas ruas da cidade,
conhecida como Rua Dr. Coelho. A comissão só conseguiu chegar a
Cajazeiras no dia 25 de dezembro, para no dia 27 serem iniciados os
trabalhos. Dos mil flagelados foram alistados apenas 300.
O projeto
inicial foi substituído e trouxe uma vantagem, pois aumentou
consideravelmente a sua capacidade para 2.599.600 metros cúbicos d’água.
As duas barragens ficaram com 453,5 metros de comprimento e seu
sangradouro ficou com 36 metros de comprimento, cuja fundação é
assentada em rocha firme. A famosa escadaria da Avenida Presidente João
Pessoa, foi construída como “gigante”, na administração de Antonio José
de Sousa, nomeado interinamente prefeito de Cajazeiras, em março de
1947, e reformado na administração de Otacílio Jurema, no seu primeiro
mandato (1951-1955), para dar sustentação a muralha. Conclusão: a parte
mais funda do açude se encontra logo após a Praça Presidente João
Pessoa.
O custo do açude
Um fato
incrível, se fosse nos dias de hoje. O orçamento para a construção foi
de 76:244$096, só que foi gasto 73:201$425, quase 3 contos a menos do
que foi programado. As despesas foram efetuadas nos seguintes itens:
pessoal técnico administrativo, operários, desapropriações, ferramentas,
utensílios, objetos de escritórios e materiais de construção. Hoje em
dia os aditivos são tantos que geralmente todas as obras têm seus
orçamentos dobrados. Todos os recursos foram originados do Tesouro
Nacional.
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