Bardot, a mulher que Deus criou e que o homem levou à fama mundial. A 28
de setembro de 1934 nascia BB, a "primeira mulher moderna", segundo
Andy Warhol, e uma atriz antes do tempo.
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BB em 1960 |
É uma lenda viva, muito embora deteste a expressão, que diz não
compreender. Mais do que atriz, com participações em obras
cinematográficas de revelo (O Desprezo, A Verdade e Vida Privada), é, nas palavras de Andy Warhol, a primeira mulher moderna. Os Beatles adoravam-na, a escritora Marguerite Duras chamou-a de “Rainha Bardot” e milhões de homens adormeceram a sonhar com ela – é o que garante a edição francesa da Vogue. Já o Paris-Match descrevia-a, em 1958, de “imoral, da cabeça aos pés”. Já lá vai o tempo. Este domingo, Brigitte Bardot celebra 80 anos.
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Brigitte Bardot in "A Very Private Affair", 1961 |
“BB”, como ficou conhecida, virou as costas aos holofotes antes de
completar 40 anos. Trocou a passadeira vermelha e a perseguição
constante de paparazzi por uma vida dita normal. Corria o ano
de 1973. A carreira de atriz não foi propriamente das mais longas – há
quem diga que se retirou do meio no auge da beleza. E, de facto, é
pelo rosto de boneca, lábios carnudos e figura ampulheta que muitos se
recordam dela.
Diz a imprensa internacional que a francesa nunca seguiu os ditames
sociais. Ao invés, criava as próprias regras, longe da imagem polida das
estrelas de Hollywood. E ao contrário de algumas companheiras de
profissão, como Sophia Loren (que também completou 80 anos este mês),
não pertencia à classe trabalhadora. Bardot vinha de uma família
burguesa e católica; vivia num apartamento com sete quartos, localizado
no 16º arrondissement, em Paris. Não muito longe da Torre Eiffel.
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Brigitte Bardot, 1955 |
Ainda jovem, estudou ballet por três anos, no conservatório
parisiense, onde desenvolveu a postura elegante que, depressa,
encantaria o mundo. Mas as piruetas e os pliés foram
abandonados em detrimento da vontade de arriscar nas lides da
representação: Bardot estreou-se no grande ecrã em 1952, no filme Le trou normand. Mais tarde, com apenas 23 anos, fazia história ao participar na longa-metragem E Deus criou a mulher (Et Dieu… Crea La Femme, 1956),
do realizador Roger Vadim – o primeiro dos quatro homens com quem BB
esteve casada. Uma das cenas mais famosas da película mostra a
protagonista a dançar, descalça e com o cabelo solto, numa espécie de
transe sensual, o que à época era considerado ousado. Resultado? O
escândalo voou além-fronteiras.
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“Et dieu…créa la #femme" incarnée par Brigitte Bardot http://bit.ly/1nnvRFz Bon #Weekend à toutes! #journéedelafemme |
Por terras norte-americanas, gerentes cinematográficos foram processados
por permitir a divulgação do filme, que chegou a ser banido em alguns
estados do país. Houve, inclusive, artigos de jornais que denunciavam a
“depravação” registada em tela. A situação que se gerou em torno da
película fez dela um êxito ainda maior do que o previsto – os resultados
nas bilheteiras tiveram igual eco. “E o furor viajou de volta para a
Europa”, escreve o jornal britânico The Guardian. A publicação espanhola
La Vanguardia acrescenta: “Numa semana, BB é a alternativa europeia de
Marilyn Monroe”. A bailarina que virou atriz transformava-se na sensação
de lentes fotográficas.
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BB anos 60 |
Dona de um sex appeal descontraído, Bardot fascinou, pelo menos, duas gerações. Diz o Guardian: “Porque
Bardot comportava-se, na vida privada, como um homem. Ela não tinha
restrições. (…) Ela não era nem esposa nem mãe. Tentou as duas [coisas],
esteve casada quatro vezes e teve uma criança, e decidiu que não estava
talhada para aquilo”.
BB não representava por rebeldia, era apenas uma forma de estar na
vida. Até hoje, leva no currículo cerca de 50 filmes e 80 discos (o amor
pela música fez com que editasse vários discos na década de 1960 e
1970). Que não haja dúvidas, o cinema foi sempre o seu principal foco de
atenções. Chegou a ser nomeada para um prémio Bafta por melhor atriz
estrangeira, no filme de 1965 Viva Maria!, mas despediu-se do grande ecrã na longa-metragem Se D. Juan fosse mulher,
onde contracenou ao lado da cantora britânica Jane Birkin – a cena
lésbica protagonizada pelas duas é, até hoje, (re)lembrada pela imprensa
internacional.
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Jane Birkin e Brigitte Bardot, em Don Juan de Roger Vadim, 1973. |
O adeus ao mundo do cinema significaria o regresso, tão desejado, da
privacidade. No entanto, as coisas não correram como planeado. Brigitte
vive hoje como uma reclusa e dedica a energia que lhe sobra à defesa dos
direitos dos animais – tem, inclusive, uma fundação
em nome próprio. A biógrafa Marie-Dominique Lelièvre explica ao
Guardian que, após décadas a viver como uma reclusa nas duas
propriedades que tem em St. Tropez, BB desenvolveu uma visão distorcida
do mundo. Também o Daily Mail citava,
no final de 2013, Jane Birkin a propósito do estado de saúde da atriz
francesa: “Ela ainda me escreve. (…) Os postais que recebo dela são
sempre algo tristes. (…) Embora ela tenha uma vida privada dúbia, com
pessoas suspeitas, ela fez com que as pessoas tivessem uma espécie de
consciência moral [a propósito da defesa dos animais]“.
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Bardot no Brasil: no mês em que Brigitte faz 80 anos, Ricardo Amaral lembra como foi recebê-la http://glo.bo/1qbcnCx |
Mas esta não é a única razão para que o nome Brigitte Bardot vá
aparecendo, de vez em quando, nos jornais. Entre 1997 e 2008, a estrela
enfrentou os juízes franceses por cinco vezes acusada de “incitamento ao
ódio racial”, sendo que na última ocasião foi obrigada a pagar uma
multa de 15 mil euros. Também a relação que tem com a Frente Nacional dá
azo a conversa, tendo manifestado em vezes anteriores não só a
admiração como a amizade que sente por Marine Le Pen, líder da
extrema-direita francesa.
Apesar disso, explica Marie-Dominique Lelièvre, Bardot é um ícone a
quem celebridades como Kate Moss e Amy Winehouse devem muito, pelo
estilo pessoal e não só – Bardot contribuiu igualmente para que a
pequena vila de St. Tropez se tornasse num famoso destino de
férias, além de, ao longo da vida, ter definido modas e tendências.
É ainda considerada, pelos franceses, um exemplo de beleza nacional, embora a fama e o sex appeal
tenham cruzado fronteiras há muito tempo. De outra forma não seria de
esperar, não fosse Brigitte Bardot, aos 80 anos, uma lenda viva. Mesmo
que não goste da expressão.
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Only idiots refuse to change their minds.- Brigitte Bardot #quote |
Fonte: http://observador.pt/2014/09/27/brigitte-bardot-80-anos-depois/