Líder carismático, populista, demagogo, irresponsável, herdeiro espiritual de Simón Bolívar, comandante, socialista, cristão, revolucionário, "Mussolini tropical", comunista.
Ou "ilusionista", como dele disse Gabriel García Márquez.
Puseram-lhe todos os rótulos, chamaram-lhe todos os nomes, bajularam-no de mil formas. Hugo Chávez, que se deu a conhecer ao mundo inicialmente como oficial golpista, vindo mais tarde a candidatar-se a umas presidenciais que venceu, alterou a Constituição de modo a fazer-se eleger sem limite de mandato.
Tinha uma insaciável sede de poder.
Fez mil juras de morte a Washington, sem deixar de ser um dos quatro maiores fornecedores internacionais de petróleo aos Estados Unidos, e prometeu levar a sua "revolução bolivariana" e o "socialismo do século XXI" aos quatro cantos da América Latina.
Mas o destino foi-lhe cruel: não chegou a tomar posse do terceiro mandato presidencial, conquistado nas urnas a 7 de Outubro, quando já se encontrava gravemente doente. Desde 11 de Dezembro, dia em que aterrou em Cuba para uma operação de emergência, nunca mais surgiu em público nem os venezuelanos voltaram a escutar-lhe a voz. Durante o ano passado, já havia passado 106 dias na ilha que os irmãos Castro governam desde 1959 e vários ministros acompanharam-no nestes 11 périplos a Havana, onde chegou a despachar e a assinar decretos.
Ocupava o Palácio de Miraflores desde 1999. E ocupava quase todo o palco mediático do país, com as suas intermináveis arengas aos venezuelanos, várias das quais transmitidas em todos os canais televisivos e radiofónicos por imposição legal: só no mês de Julho de 2012, foram 4260 minutos.
Nas presidenciais do ano passado, com a sua entourage obcecada em esconder dos eleitores o verdadeiro estado clínico do recandidato, recusou qualquer debate com o opositor, Henrique Capriles, trocando o argumento civilizado pelo insulto, habitual arma dos fracos.
Foi uma campanha inútil para uma eleição igualmente inútil. Uma desesperada jogada do chavismo para perpetuar uma liderança que prometia estender-se pelo menos até 2019 e não chegou sequer a cumprir o acto de posse, primeira formalidade indispensável para exercer o cargo.
Os últimos meses processaram-se num macabro teatro de sombras em Caracas. Com encenações de todo o tipo, incluindo a exibição de uma sorridente fotografia do antigo tenente-coronel paraquedista rodeado das filhas no leito hospitalar enquanto se entoavam loas à "recuperação" do moribundo.
Chávez morreu há poucas horas - vítima de um cancro que lhe terá sido inoculado pelos "inimigos da revolução", como admite o vice-presidente e putativo sucessor do caudilho, Nicolás Maduro, prometendo uma minuciosa "análise científica" para confirmar tão patética tese.
O chavismo ambiciona continuar sem Hugo Chávez. Mas não será a mesma coisa. O carisma não se transmite por decreto.
Cai o pano sobre o teatro de sombras: Chávez, com as suas mil contradições, não governará até 2019 como um semideus idolatrado pelas massas, odiado visceralmente por numerosos inimigos políticos e tendo ao seu dispor um impressionante aparelho de propaganda, bem remunerado com as receitas do petróleo.
Era apenas humano, demasiado humano na evidência dos seus defeitos e virtudes. Como qualquer de nós, afinal.
Fonte: http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/
Um comentário:
Interessante, somente pessoas mal-informadas seriam capazes de escrever uma asneira de tamanha dimensão. Sugiro ao nosso leigo, conhecer melhor o contexto sócio-econômico do povo venezuelano, antes e pós Chavez. Aqui no Brasil, é genérica a vociferação da nação ao reclamar que os políticos não fazem nada pelos pobres. Que paradoxo!!!
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