Michel Zaidan

Como era de
se esperar, a primeira pesquisa de intenções de voto, depois da morte do
ex-governador e do ato político-eleitoral que a seguiu, juntamente com a
exploração da mídia, mostrou os efeitos conjunturais da tragédia no
comportamento eleitoral dos votantes. Já se sabia, há muito tempo, que o
potencial político de uma eventual candidatura de Marina Silva era
muito maior do que a de Aécio Neves, que convenhamos, não se constitui
propriamente numa novidade para o eleitor brasileiro: representa a volta
da agenda gerencial e privatista do governo do FHC, sem o brilho
acadêmico deste último. A candidata pentecostal - vinculada à Assembléia
de Deus - esta sim, poderia encarnar o espírito (e a carne) da
novidade, ao esconder, com uma retórica ambiental, o conservadorismo de
base de sua candidatura. Agradaria a gregos e troianos: aos religiosos
fundamentalistas e aos verdes. Pousaria de defensora da família cristã
unida e de protetora do meio-ambiente, como crítica das injunções
entrópicas do chamado "desenvolvimentismo" de Dilma e, paradoxalmente,
de Eduardo Campos.
Mas, o que faz da candidata evangélica um cometa eleitoral é a marca
"anti-Dilma" que ela carrega consigo depois da eleição passada.
Apresentando-se como uma vestal no cenário sórdido da campanha política,
Marina pode alegar que saiu do governo petista porque ele trocou o
meio-ambiente pelos imperativos do crescimento econômico a qualquer
custo, partiu o IBAMA em dois pedaços, acelerou a concessão de licenças
ambientais, fez a opção pelo agro-negócio, abandonou a reforma agrária
etc. etc. etc. Ela não, ainda tem as mãos limpas, é uma bem
intencionada, acredita em sonhos, e esse discurso tanto pode arrebanhar
votos da juventude, como da classe média urbana descontente com as
denúncias de corrupção no governo petista, e ainda a extensa base
religiosa das várias igrejas pentecostais e neo-pentecostais.
Acrescente-se a isso a postura defensiva de Dilma Rousseff nos debates
eleitorais, a sua insegurança, a sua tensão.
No entanto, há algo de curioso nesse fenômeno eleitoral "postmortem"
eduardiano. Há algo de curioso e inquietante no engajamento de pessoas
da classe média na exaltação político-eleitoral do PSB, nos bairros
nobres da cidade. 0 que leva este extrato da população recifense a
vestir a camisa de uma candidata pobre, doente, negra e pentecostal? -
que fez toda carreira política e sindical no PT e no governo LULA -
como se fosse a "virgem do contestado" que viria redimir a política
brasileira de seu vícios de deformações seculares. Será que tudo isso é
obra e graça da mera espetacularização do velório e funeral do esquife
do ex-governador?0 que há por atrás disso tudo? - As artimanhas da família e dos marqueteiros do PSB?
É
isso que tem de ser investigado com profundidade e isenção. 0 que
alimenta o dinamismo da conjuntura e as mudanças de intenção de voto,
pode ser uma vontade de renovação - sobretudo de setores médios e da
juventude - numa disputa sem novidades políticas e eleitorais. Vontade
capturada pela candidatura de Marina Silva (como terceiro elemento).
Mas não é de se desprezar o investimento emocional e material da
oligarquia de Pernambuco, que naturalmente não deseja perder o controle
da sucessão estadual e nacional.
Vamos
nos preparar para o embate entre o candidato de retrocesso, a candidata
obscurantista (embora travestida de pós-moderna) e "mais do mesmo". 0
Brasil merece mais do que isso!
Michel Zaidan é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Fonte: http://blogdojolugue.blogspot.com.br/2014/08/michel-zaidan-as-nuvens-se-movem-quanto.html?spref=fb
Nenhum comentário:
Postar um comentário