Eu tive pai e avô, daqueles do
modelo antigo, para os quais os filhos estão em primeiro plano, o chefe de
família, alguém com quem você podia contar. Mas não fui só eu quem teve esse
privilégio. Provavelmente minha geração foi das últimas premiadas por pais que
cabiam no modelo construído para um tempo em que os papéis e as funções eram
bem definidas na sociedade. Claro que eles tinham seus defeitos. Também é
notório que existiam péssimos pais. Quem não teve um amigo ou conhecido com um
pai mau caráter ou atormentado que expunha a família a uma convivência
turbulenta? Mas, de uma maneira geral,
as mulheres tinham muito mais a reclamar dos maridos que os filhos dos pais. E,
com todos os problemas, de uma maneira geral, ter um pai é uma experiência que a sociedade
pós-moderna fica devendo aos filhos. Eu faria uma observação um tanto drástica.
O que era regra virou exceção e vice-versa.
O tempo e a ciência
disponibilizaram novas regras. Entre elas, quebraram o estigma da ilegitimidade
dos filhos fora do casamento, uma das maiores crueldades que o passado cultivou
e que ainda hoje é um legado acalentado pela covardia masculina e pelo medo das
mulheres. As esposas, ditas traídas, moderninhas de plantão, fazem de conta que
os filhos não têm irmãos para alimentar sua fantasia de família perfeita e
bajular a cretinice masculina em não reconhecer ou reconhecer veladamente os
filhos para não mexer, principalmente, com o patrimônio ou com a harmônica e
fantasiosa vida familiar.
A legislação e o exame do DNA quebraram
muitas barreiras e obrigaram legalmente o reconhecimento da paternidade, mas
nenhum dos dois obriga alguém a ser pai. Por uma razão muito simples: ser pai é
um ato de coragem, uma disposição pra amar e assumir afetivamente os filhos. Não
precisa ser super-homem para ser pai, só precisa ter respeito por si mesmo e
responsabilidade pelos seus atos.
E não me venham com esta conversa
ultrapassada que as mulheres fazem filhos à revelia. Existem milhões de
alternativas para não fazer filhos à disposição dos homens. Do uso do
preservativo à vasectomia. Transar é bom mas tem riscos, cada um tem que
assumir a sua parte. Neste contexto, não existe mulher ingênua nem homem
inocente. De uma maneira ou de outra, o
resultado é partilhado. Não tem outra.
Não podemos esquecer as
raríssimas exceções que mostram que é possível ser pai, sim, e que a
irresponsabilidade não é um atributo obrigatório na construção do homem.
Mas os filhos fora das relações
formais não são as únicas vítimas da indiferença dos pais. Este padecimento não
escolhe lugar para acontecer porque ele é fruto do egoísmo, da
irresponsabilidade, da falta de caráter, do desamor.
Por estas e outras razões,
algumas pessoas deviam vir fadadas à esterilidade por não merecerem o bem maior
que são os filhos.
Ser pai é cuidar, amar e
proteger. Independente da condição de vida e das circunstâncias. Mas para
entrar na categoria de pai é preciso ter coragem e caráter. Esse pai, e só
esse, sabe que todos os dias são dias dos pais e das mães. Estes sempre terão
reverência e respeito. O dia de hoje é apenas mais um dia comercial que
estimula o consumo mas não dá conta da riqueza que é ser pai e ter pai.
ML.
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