1. O MEDO DE ENVELHECER É UM DOS MAIS COMUNS AO SER HUMANO.
(Goya (1746-1828)- Hasta la muerte, 1808-1810)
Para o suavizar estamos prontos a tudo: a
mentir, a esvaziar boiões de cremes, a consultar bruxas e adivinhos, a
contrair dívidas, a recorrer a bisturis de cirurgiões plásticos, a ouvir
palestras, a testar remédios, termas e spas.

Medo de perder a beleza, medo de passar por inútil, medo da doença,
da morte, medo de, de e de, obrigam-nos a correr seca e meca à procura
da fonte da juventude eterna.
Passamos imenso tempo a arranjar formas de contornar o tempo.
Com a sua ironia habitual, disse Oscar Wilde:
a alma nasce velha e vai-se tornando cada vez mais nova. É essa a comédia da vida. O corpo nasce jovem e vai-se fazendo cada vez mais velho. É a tragédia da vida.
(A sabedoria e o humor de Oscar Wilde, Casa das letras, 2008).
Máxima deliciosa, que será olhada de sobrolho franzido por todos
aqueles que, perante a inevitabilidade dos anos, rematam: “mas o que
interessa é a juventude de espírito, não é”?
Comédia e tragédia, rir e chorar eis os dois pólos da nossa existência na terra.
Rir, por exemplo, desta máxima de Flaubert:
Rir, por exemplo, desta máxima de Flaubert:
mal chegamos a este mundo logo nos caem bocados.
E por maior que seja o jeito de apanhar os bocados e colá-los bem
direitinhos, todos os anos o bolo de aniversário tem mais uma vela.
Wilde (1854-1900) e Flaubert
(1821-1880), são dois escritores do século XIX, dois clássicos da
literatura ocidental, um irlandês, outro, francês. Sabiam que só há uma
forma de contornar eficazmente o problema do nosso problema com o tempo:
optarmos por ser clássicos em vez de velhos.
2. VELHO/CLÁSSICO
Se eu disser de alguém ou de alguma coisa ( peça de roupa, música literatura, pintura, etc): é um velho ou é um clássico, a diferença é gritante.

Velho:
a) Ridículo (risível; inspira também um pouco de piedade).
b) Inútil: não serve para nada; um fardo, um empecilho.
c) Anacrónico: está completamente fora de moda e por isso inspira os mesmos sentimentos de a).
a) Ridículo (risível; inspira também um pouco de piedade).
b) Inútil: não serve para nada; um fardo, um empecilho.
c) Anacrónico: está completamente fora de moda e por isso inspira os mesmos sentimentos de a).
Clássico:
a) Modelo: inspira confiança e respeito. Inspira um desejo de imitação.
b) Útil: a sua inesgotável fonte de inspiração torna-o de uma utilidade constante e sempre renovada.
c) Intemporal: um clássico rejuvenesce todos os dias e mesmo quando parece desaparecer, ei-lo que renasce para mais uma vez nos inspirar.
a) Modelo: inspira confiança e respeito. Inspira um desejo de imitação.
b) Útil: a sua inesgotável fonte de inspiração torna-o de uma utilidade constante e sempre renovada.
c) Intemporal: um clássico rejuvenesce todos os dias e mesmo quando parece desaparecer, ei-lo que renasce para mais uma vez nos inspirar.
Tecidas estas considerações, posso agora anunciar aos meus leitores o segredo da eterna juventude:
- Não, não está nas mezinhas e mesinhas de cirurgiões afamados e famintos de cortes e recortes,
- mas em assumir, depois dos 35 anos de idade, um estatuto de clássico.
- Não, não está nas mezinhas e mesinhas de cirurgiões afamados e famintos de cortes e recortes,
- mas em assumir, depois dos 35 anos de idade, um estatuto de clássico.
Não caia na patetice de querer ser sempre jovem. Fica ridículo. Assuma-se como Clássico.
Como, perguntará?É fácil. Basta seguir a par e passo o que o escritor italiano ITALO CALVINO (1923-1985) nos diz dos clássicos no prefácio ao seu célebre livro Porquê ler os Clássicos?
3. COMO MANTER A JUVENTUDE SEM CREMES NEM CIRURGIAS PLÁSTICAS.

Os clássicos são livros que exercem
uma influência especial, tanto quanto se impõem como inesquecíveis, como
quando se ocultam nas pregas da memória (...).
Os clássicos são livros que quanto
mais se julga conhecê-los por ouvir falar, mais se descobrem como novos,
inesperados e inéditos ao lê-los de facto.
Do clássico toda a releitura é uma leitura de descoberta igual à primeira.
Um clássico é um livro que nunca acabou de dizer o que tem a dizer.
É clássico o que tiver tendência
para relegar a actualidade para a categoria de ruído de fundo, mas ao
mesmo tempo não puder passar sem esse ruído de fundo.
O nosso clássico é o que não pode
ser-nos indiferente e que nos serve para nos definirmos a nós mesmos em
relação e se calhar até em contraste com ele.
Chamam-se clássicos os livros que
constituem uma riqueza para quem os leu e amou; mas constituem uma
riqueza maior para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez
nas condições melhores para o saborear.
Seleccionámos apenas 7 das 14 definições que nos dá Calvino
dos clássicos. Isto porque é já uma grande tarefa desenvolver tudo o
que é necessário para que qualquer um de nós possa, a partir dos trinta e
cinco anos, caminhar nessa direcção.
Uma coisa é certa: só assim poderá evitar ser chamado de velho, só assim poderá compreender quem somos e a que chegámos.
(Porquê ler os clássicos, Teorema, 2009, Italo Calvino)
Uma coisa é certa: só assim poderá evitar ser chamado de velho, só assim poderá compreender quem somos e a que chegámos.
(Porquê ler os clássicos, Teorema, 2009, Italo Calvino)
Se meditar bem nestas propostas de Italo Calvino e tentar segui-las, já não cairá na tentação de dizer que está a ENVELHECER, mas apenas a ENCLASSICAR.
Lembre-se de uma outra máxima de um escritor francês, outro clássico, André Gide (1869-1951):
Querer estar sempre na moda é estar sempre desactualizado.
Por outras palavras,
Querer ser sempre novo é estar condenado a uma velhice prematura.
Querer ser sempre novo é estar condenado a uma velhice prematura.
Fonte: http://www.lereperigoso.pt/blog/nao-tenha-medo-de-envelhecer.html
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