(André J. Gomes)
Chega, né? Basta de jogar o tempo fora. Chega desse mal estar das esperas inúteis, longas esperas das coisas pequenas. Basta de criar ferrugem nas juntas e bolor no cérebro. Vamos em frente. Me dá sua mão. Vamos caminhar pela vida.
Chega, né? Basta de jogar o tempo fora. Chega desse mal estar das esperas inúteis, longas esperas das coisas pequenas. Basta de criar ferrugem nas juntas e bolor no cérebro. Vamos em frente. Me dá sua mão. Vamos caminhar pela vida.
Vamos ao mundo, ao tudo e ao nada. Vamos abrir uma empresa e falir
juntos. Construir uma biblioteca pública! Vem, vamos pular as poças
d’água, empurrar um pé depois do outro no contrafluxo da enxurrada,
fuçar os lixos das casas, apertar as campainhas, fugir correndo! Vamos
negar os princípios da física, revogar a lei da gravidade e voar por aí,
sobre as cabeças rasteiras dos idiotas.
Olhar você de perto me emociona como ouvir um sotaque diferente
pedindo informação em terra estranha. E me dá a sensação de que, não sei
quando, não sei como, não sei onde, ainda vou casar com você. Me dá sua
mão. Vamos caminhar pela vida!
E que uma música linda nos acompanhe cada passo, invada nosso caminho
como a água furiosa da chuva na enchente, derrubando tudo, levando a
todos. Que você e eu, em nosso desespero dos amantes, percamos tudo para
recuperar depois, com a força do trabalho e a Graça de Deus.
Que aos poucos, nossos pés no chão nos levem longe e nos mantenham
perto, apesar de nossa distância geográfica, nossos tempos
incompatíveis, nossos afazeres aqui e aí. Que o amor louco e a saudade
sejam nossos códigos de endereçamento postal.
Sejamos
você e eu inocentes como dois amigos de infância, sonhadores como dois
velhos elefantes que ganham asas e saem voando por aí. Planando sobre as
águas calmas dos domingos preguiçosos, deslizando no tapete invisível
da brisa que atravessa o mar, escorrendo do espaço estreito de hoje para
tanto amanhã e suas expectativas grandiosas, como aprendemos em nossos
instantes de olhar para o nada.
Cada dia que nos pertença nos encontrará. Nada nos perde. Nada
perderemos que já não nos pertencesse. O que é nosso não se perde,
amor. O que é seu e meu nos encontrará no caminho. Vem, me dá sua mão,
vamos caminhar pela vida. Esse lugar imenso em que não há o que passa
nem o que faz passar. A vida em que tudo é passagem e onde tudo que nos
resta é o caminho. Vem, vamos caminhar pela vida.
Eu tenho sentido medo, sabe? Medo. Esse negócio de um dia depois do
outro me dá um pavor daqueles. É medo de ficar só, de perder a hora, de
não encontrar você por aí. Porque aqui, no meio dessas horas infinitas
de trabalho, entre tantas tarefas e contas, perdido nesses escritos,
nadando nessa nuvem de sonhos e esperanças, vez ou outra faz um frio
danado.
Nessas horas, pensar em você num sorriso ensolarado me acende um fogo
manso aqui dentro. O medo fraqueja na alma. Mas continua ali, como uma
pedra de gelo derretendo no bolso.
Só vai passar quando estivermos na estrada, você e eu, seguindo para
longe do escuro, rumo ao fogo alaranjado que arde no calor do encontro. E
partiremos assim, você e eu e os nossos, em ziguezague no caminho de
sempre. Em frente. Vem, me dá sua mão. Vamos caminhar pela vida.
Fonte:http://www.revistabula.com/2517-da-sua-mao-vamos-caminhar-pela-vida/
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