quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Medicina vapt vupt


 

Os competentes médicos naturalmente estão fora dessa categoria. Eles formam um contingente cada dia menor mas seria leviano generalizar sem fazer essa ressalva. Eu diria até que eles formam uma mini minoria mas é preciso reconhecer que ainda existem alguns que fazem a diferença.
Infelizmente ainda não existe uma delegacia ou órgão para controlar o abuso e a falta de respeito dentro dos consultórios. Não estou falando de assédio e sim da falta de compromisso, ética e responsabilidade de médicos com os pacientes. Estamos à mercê de um comércio sem regras claras e sem proteção ao usuário.
 
Ir a uma urgência é uma temeridade. Todo mundo que eu conheço tem um episódio sobre urgência para contar. É preciso sorte - mas muita sorte mesmo - para ser atendido por profissional que entenda um pouco além da aplicação de soro. A doença é virose. Passa um remedinho e salve-se quem puder. O paciente recebe um atendimento no melhor estilo “banho de gato” e a orientação de procurar um médico no dia seguinte. 
  
Começa a segunda etapa. O paciente espera até seis meses por uma vaga num bom médico ou encara uma aventura que pode ou não dar certo. Ou seja, estamos entregues à sorte.

Os consultórios são lotados porque os planos de saúde pagam pouco e os médicos ganham por produção. Então, tome consulta! A média são cinco minutos. Em alguns casos, até a guia de exames já está preenchida com antecedência. Na hora, põe o nome do paciente e o carimbo do médico com a sua assinatura. Eu não consigo entender a dinâmica do preenchimento antecipado de guias, a lógica da distribuição entre os pacientes quando nem tempo de ouvir os sintomas o médico tem. Será por telepatia? Ou eu poderia supor a hipótese de uma  possível aliança ligando essa categoria de profissionais aos laboratórios e clínicas?
 
E se isso fosse pouco ainda nos submetemos aos planos de saúde, espertos comerciantes e cobradores intransigentes. O atendimento aos usuários é sofrível. Tanto faz pagar caro como barato, o atendimento é péssimo inclusive considerando a variável incompetência algumas vezes confundida com má vontade.  E nem adianta reclamar porque a ouvidoria deles e nada é a mesma coisa.
 
Ainda tem o capítulo remédio. Além de caros, é um terror a estratégia de publicidade dos laboratórios. Além de patrocinar congressos, viagens, presentes, a pressão é grande sobre os profissionais para disparar o consumo. Alguém – VOCÊ – tem que pagar essa mordomia toda que os médicos recebem. E tome remédio. Farmácia é pior do que padaria, não tem uma que não tenha fila. Qualquer hora do dia está cheia de gente. O mundo está envenenado de remédio passado sem o menor escrúpulo.

O conhecimento é um valor. Se o médico dispõe desse conhecimento, deve cobrar por ele o preço que acredita que vale. Não venham com esse papo de que todos têm direito a atendimento e em nome do amor a profissão os médicos aceitam os planos de saúde. São Francisco pode agradecer mas o paciente dispensa o cinismo do argumento.
 
A solução adotada é tirar no atacado o que a competência não permite cobrar. E tome consultórios lotados. Os planos de saúde cobram caríssimo do usuário por uma medicina cheia de restrições, remuneram miseravelmente mas, por favor, a maioria das consultas do jeito que estão sendo realizadas não merecem mais do que recebem.

A questão não é só respeitar o paciente, é sobretudo respeitar a si próprio como profissional e a própria medicina enquanto prática.

Arrogantes, despreparados e sem ética profissional, os despachantes de guias de exame são absolutamente livres no seu território.

O SUS, pelo menos, ainda tem a imprensa pra quebrar o pau em cima dos problemas. Os usuários de plano não tem ninguém. Nem lei nem rei.

Certo mesmo é o que dizia uma velha tia: minha filha, quem tem plano de saúde, não tem saúde.  Infelizmente, ela tinha razão.
E ainda tem quem fale mal do SUS.
ML

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