Jarismar Gonçalves, Titica e os netos |
O tempo passa. E nós - tão
preocupados com as responsabilidades, as coisas por fazer, as contas para pagar,
os compromissos para cumprir - não vemos a vida passar. Estamos sempre pendentes
de horários, sacrificamos o importante para atender o urgente, damos conta que
o mês passou quando chegam os contracheques e as contas do mês seguinte. É difícil
imaginar o que representa meio século de vida principalmente para os mais
jovens. Mais difícil ainda é atravessar 50 anos a partir de um marco de
responsabilidade da vida adulta e sobretudo compartilhar uma construção durante
tanto tempo. Os filhos são efetivamente uma construção que se expande sem
fronteiras para além de nós mesmos.
Coloquemos a vida dentro de um
tempo histórico. Tanta coisa aconteceu de 1963 até 2013. Se quisermos começar
de casa, atravessamos uma ditadura cruel, vimos a democracia voltar e a luta
para que outras ideias tivessem espaço no contexto político brasileiro. Quantas crises econômicas atravessamos
ao longo desse tempo. Migramos definitivamente do campo para a cidade.
Sofisticamos o nosso estilo de vida abraçando costumes e modos que nunca foram
nossos. Na música, quantas revelações vindas dos festivais. Passamos pelo
iê-iê-iê, pelo tropicalismo, pelo rock brasiliense, desembarcamos no axé, no
brega, no funk. E na vida coube tudo isso e muito, muito mais.
O mundo virou pelo avesso. A
guerra fria. O homem pisou na lua. A revolução cultural da China. A independência
das colônias que fez surgir tantos países. A mudança nos mapas com o ressurgimento
das repúblicas oriundas da URSS. O feminismo. A pílula anticoncepcional. A
pressão das minorias. A vida pautada pelo efêmero. As novas tecnologias
redimensionando as relações sociais e trazendo o mundo pra dentro de nossa
casa. E o mais recente, a renúncia do papa. Quantas coisas mais que repercutiram direta ou indiretamente no nosso cotidiano.
Tudo isso em 50 anos. Não é nada
mas representa a imposição de compreender as mudanças e mudar com elas. Quem constrói
uma família para o futuro sabe o que tudo isso significa.
No contexto da vida
doméstica, nenhum desafio é maior para um casal que a rotina da convivência. Administrar
as diferenças, atravessar crises e problemas, cultivar o afeto, manter um
projeto de vida comum, saber perdoar, lutar para não perder o encantamento,
saber a hora de cuidar dos filhos e de cuidar de si mesmos. Não é fácil nem
acredito que uma vida em comum se constrói só com e pelo amor. Viver a dois é sobretudo
uma questão de competência. Não é pra qualquer um. Por essas e outras é que
mantenho uma profunda admiração pelas pessoas que são capazes de encarar o
maior desafio: atravessar a rotina sem perder o rumo.
Parabéns, Jarismar e Titica. Para
vocês, o meu abraço e o desejo que muitas outras bodas venham adiante
encontrando toda a família com saúde, paz e amor.
ML
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