quarta-feira, 9 de junho de 2010

Copa, vida e ira (Rsana Hermann)

Pela primeira vez eu pensei: vai começar e copa e sinto que não queria estar lá. Sei que Johannesburgo deve ser linda, os bichos, a natureza, o por do sol e tudo mais. Mas eu não queria estar lá. Não queria viajar, sentir frio, nada. A melhor coisa do mundo é não ter inveja dos outros. E, nesse caso, não sinto nenhuma inveja de quem foi escalado pra ir. Que aproveitem bem, toda viagem internacional acrescenta experiências de vida maravilhosas. Mas não é meu caminho. Nunca me incomodei com os bens alheios, nem a riqueza,nunca. Meu problema é outro.

Meu problema é alguma coisa que passa por um post do Boni, que li hoje. A gente nunca sabe se é amado, se é compreendido. Se sabe amar e compreender. Ou, mais além no meu caso, a gente sempre acha que não é reconhecido, que é injustiçado. Provavelmente porque nos temos em conta mais alta do que realmente nos cabe.

Existe uma arrogância em todos nós, a mesma fonte que faz com que todo mundo ache que mereça sempre mais do que tem. Sempre. Bem provável que esteja ligada àquela programação básica do DOS genético, em busca de reprodução da espécie com exemplares que evoluem em relação a gente. Querer o melhor para si, para os filhos, é condição primária da evolução. Mas tem algo muito errado num sentimento que vem de brinde, uma espécie de radar que bate o olho e imediatamente reconhece o outro como inferior a nós. Sabe quando você vê alguém e pensa `por que ele se eu sou melhor`? Pode ser uma vaga de emprego, um calouro cantando na TV, alguém sendo homenageado.

O ser humano sempre se compara com o outro. E sempre quer ganhar. Resultado? Sofrimento garantido para todos. Porque quem se compara corre o risco de perder na comparação o tempo todo. Daí vem a revolta e a ira. Ah, a ira. Que medo da ira. A ira nos arrasta pro escuro, nos traveste de monstros, rouba nossa identidide. E assim, sem nome como o 'coisa ruim', pessoas partem para a ofensa anônima, as mensagens cifradas, as indiretas maldosas, o ódio espalhado. Saímos em busca de ligações de infortúnio e nos associamos a pessoas das trevas. Ah, a ira. Espelho do nosso mal.

Não sou fatalista, mas tenho certeza que a forma com que lidamos com a nossa ira, nos momentos em que somos contrariados, em que nos vemos frustrados, é a exata medida do que somos e do que vamos ter da vida. Quem não aceita não, quem não quer ficar por baixo, quem não sabe rir de suas desgraças, quem não se conforma, quem agride o outro, quem humilha o outro, vai ter de volta,de alguma forma, o troco que o universo dá. Porque causa e efeito, ação e reação, são leis invioláveis. E o resultado, todo mundo sabe, é a condenação a conviver com seus próprios demônios, por todo o sempre e sempre, amém.

Bom dia.
Cuidado com a ira, tá?

Fonte: http://noticias.r7.com/blogs/querido-leitor/

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