sábado, 11 de abril de 2015



 

                                                                          Capa da 4ª ed. de Glosas Sertanejas



OUTRAS GLOSAS DO POETA LUIZ QUEZADO

Certa vez encontrava-se no seu Sítio Roncador, quando recebeu este malcriado bilhete, enviado por seu primo Napoleão Quezado, outro excelente poeta, com o qual gostava de brincar, trocando tal tipo de correspondências:

O velho Luiz Quezado
Passa a vida pobremente,
Na boca não tem um dente,
Com que mastigue um bocado,
No “Roncador” isolado,
Sem recurso e sem dinheiro,
Comeu o pai do terreiro,
Só lhe resta uma galinha,
Dos possuídos que tinha,
Só ficou o “tabaqueiro”. 

Ao receber o bilhete, o poeta Luiz Quezado, à queima-roupa, mandou a seguinte resposta:

O velho Luiz Quezado
Não passa a vida pobremente,
Tem, além do “Tabaqueiro”,
Uma  cabrita melada,
Muita cana replantada,
O burro “Peitica”, um carneiro
E, ainda prisioneiro,
Um macaco na corrente,
Algum feijão de semente,
Muito milho empaiolado;
O velho Luiz Quezada
Não passa a vida pobremente.


SAUDAÇÃO AO RECÉM-CHEGADO VIGÁRIO DA PARÓQUIA

Ó Senhor, não batei palmas
Por um pastor te chegado.
Eu sou o pastor do gado,
Vós sois o pastor das almas.
Vós viveis com todas calmas,
Eu vivo com lutadores,
Vós viveis entre os doutores
Instruindo e dando  exemplo,
Eu  no campo vós no templo,
Nós ambos somos pastores.”


APRESENTAÇÃO DO NEGRO BALIZA

- Este é o negro Baliza,
Que mora ali, no Besouro;
Tem tanta morte no couro,
Que só botão na camisa;

Para matar não alisa;

Tem sangue de cangaceiro;

É feroz e traiçoeiro;

Sabe roubar por estudo;

Duma vez só, rouba tudo:

Honra, existência e dinheiro!

NEM TODO PAU DÁ ESTEIO

Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro
Nem todo judeu é mouro, '
Nem todo pau dá canoa;
Nem toda notícia é boa,
Nem tudo que vejo eu creio,
Nem todos zelam o alheio,
Nem toda medida é reta, _
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem toda água é corrente.
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel.
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente.
Nem toda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jôgo,
Nem toda vaca é leiteira;
Nem toda moça é faceira.
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todos  livros eu leio,
Nem todo trilho é estrada,
Nem toda gente me agrada.
Nem todo pau dá esteio,

Nem todo estrondo é trovão.
Nem todo vivente fala,
Nem tudo que fura é bala.
Nem todo rico é barão;
Nem todo azedo é limão,
Nem todos pagam "bloqueio",
Nem todas as noites ceio,
Nem todo vinho é de uva,
Nem toda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo preto é carvão,
Nem todo azul é anil,
Nem toda terra é Brasil,
Nem toda gente é cristão;
Nem todo índio é pagão,
Nem toda agência é Correio.
Nem toda viaje é passeio,
Nem todos prezam bom nome,
Nem toda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.

Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rôgo é ouvido,
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sitio é recreio, 
Nem toda massa é de trigo,
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.

UM BEIJO EM MULHER MEDROSA

Um beijo em mulher medrosa,
Dado escondido, às escuras,
É a maior das venturas
Que a alma do homem goza.

O beijo que é concedido,
Com liberdade e franqueza,
Parece uma sobremesa,
Depois de um jantar sortido.

Não deve o beijo ser dado
Com franca condescendência,
Mas sempre com resistência
Para poder ser furtado.

Convém que o beijo se tome
Depois de renhida luta,
como se fôsse uma fruta
Comida por quem tem fome...

Mas o beijo, a qualquer hora,
Que mais provoca o desejo
E quando a dona do beijo
Suspira, soluça e chora.

Porém o maior sabor
É quando a mulher nos nega,
Porque então a gente pega
E beija seja onde fôr!!!...

fontes: 
- Acorda Cordel
- Um olhar sobre São João do Rio do Peixe

Fonte: http://cajazeirasdeamor.blogspot.com.br/

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