Conheço cada vez mais
pessoas dependentes de antidepressivos. Algumas delas beneficiariam de
sessões regulares de psicoterapia, tenho a certeza, mas as consultas são
caras e, nestes tempos terríveis, muitas delas não têm qualquer
possibilidade de as pagar. Não sou contra os químicos (acho que um
comprimido para dormir de vez em quando é muito melhor do que uma noite
de insónia) mas a dependência assusta-me e, quanto às depressões, duvido
muito de uma cura química. Há, porém, quem sugira para elas um
tratamento menos intrusivo (biologicamente, claro) e o Serviço Nacional
de Saúde do Reino Unido pratica já, em alguns casos, uma terapia que
passa pelos livros. Books on Prescription, assim se chama a
biblioterapia que receita leituras em vez de fármacos – os efeitos
secundários só podem ser bons, digo eu –, é coisa séria, porque os
títulos aconselhados são mesmo de leitura obrigatória e é forçoso que os
pacientes os aviem na biblioteca ou livraria mais próxima e os leiam
para depois falarem sobre eles com o psicólogo ou psiquiatra. Porque ler
não acarreta perda do desejo sexual, aumento de peso e outras
consequências desagradáveis que têm os comprimidos, parece que, desde
que o método foi implantado, em Junho do ano passado, as requisições de
livros multiplicaram-se e os pacientes sentiram efectivamente melhorias
em termos de saúde mental. Os seus bolsos também agradeceram com este
tratamento low-cost e a consciência de que os seus problemas
afectam igualmente outras pessoas (o que concluíram das leituras feitas)
acabou por lhes retirar parte do peso de cima. É evidente que, para
esta terapia poder ser recomendada, os psicoterapeutas têm de ter lido
os livros antes, e não sei se em Portugal a classe está suficientemente
informada. O que posso dizer é que, em momentos especialmente maus da
minha vida, os livros – escritos e lidos – foram a minha salvação.
Fonte: http://horasextraordinarias.blogs.sapo.pt/ler-como-terapia-223409
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