sábado, 19 de dezembro de 2009

Palavras, palavras, palavras



(Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa)

Às vezes fico em dúvida: será que tudo é tão premente assim? Estamos chegando ao fim do mundo? O mundo está mesmo em vias de acabar, a não ser que sejam tomadas medidas muito severas e que terão um custo muito alto? Estamos nas vésperas de um novo dilúvio?
É verdade verdadeira?
O mundo depende dos homens e mulheres que estão no comando hoje? Então, sinto muito, estamos no vinagre.
Não duvido que haja um discurso que resolva o impasse que se formou em Copenhagen. Não duvido que esses homens e mulheres cheguem, como disse Obama, a um possível entendimento político que destrave a COP15. O que eu duvido é dos desdobramentos no futuro. Não vejo ninguém, entre os líderes mundiais atuais, com pulso para isso.
Alterno entre o temor de que essa ameaça seja verdade e uma dúvida que não abandona minha alma. De repente, assim quase que da noite para o dia, homens e mulheres que até ontem se lixavam para bagrinhos, estão com cara de enterro. Vejo o exemplo do presidente do Brasil: tinha em sua equipe uma mulher que devotou sua vida ao meio ambiente. Mas como ela era um entrave a obras de vulto, obras que chamam a atenção dos eleitores, ela foi espezinhada até se demitir. Lembro um dia na Argentina em que Lula contou, em tom de troça, aos jornalistas que o acompanhavam, que teve que adiar uma obra por causa de uma jia ou perereca, não recordo qual desses bichinhos.
Também não compreendo essa gana em cima dos países ricos. Vão ter que pagar multa pelo resto dos dias por suas existências terem começado antes das dos outros países? Os italianos vão pagar pelo fato do Império Romano ter ocupado toda a Europa e a Palestina e de ter desmatado muito para construir estradas, pontes, aquedutos e teatros? Os portugueses serão penalizados por terem desmatado nas Américas, na Ásia e na África? Vamos rever os pecados de nossos ancestrais? Até quando? Até onde?
O que vejo são frases de efeito. Algumas ótimas, sobretudo as do Sarkozy. Aliás, nada com um francês para criar frases de efeito. Napoleão, o baixinho do século XVIII, que poluiu muitos lugares, era um frasista e tanto. E um conquistador de belas mulheres. O baixinho de hoje provou que além de ser casado com uma italianinha que Napoleão certamente aprovaria, também é bom de gogó. Eis algumas de suas frases, ontem, começando com a série “quem ousará?”:
Quem ousará dizer à África, ou à Índia, que elas não precisam desse dinheiro? Quem ousará sair desta sala plenária em vista do acordo mesquinho que se prepara? Quem ousará contestar que do dinheiro que vamos mobilizar é preciso dar às florestas, um bem universal?
E depois, em tom bem mais dramático: Devemos todos assumir compromissos... Reconhecer, países ricos, que nossos compromissos devem ser os mais fortes. Não estamos aqui para um colóquio sobre mudanças climáticas, mas para tomar decisões. Um fracasso em Copenhagen seria catastrófico para todos nós. O fracasso nos é proibido.
Alguma coisa de positivo aconteceu: Sarko evoluiu do é proibido proibir, para é proibido fracassar. E Lula arrematou muito bem: Estou rindo para não chorar.
Palavras, palavras, palavras... Hoje, pela manhã, estavam todos à espera, como sempre, das palavras dos americanos. E de saber quem vai dar dinheiro e quanto cada um vai dar... O homem da caneta com mais tinta já chegou. O resto, como na história do príncipe dinamarquês, é silêncio.
Na terra de Hamlet, outra frase deveria ser lembrada. Ao descobrir como seu pai morreu, a dor do príncipe foi de tal ordem que ele clamou, em tom de lamento, que seria bom que seu corpo, tão sólido, derretesse. Tenho a impressão que todos aqueles homens e mulheres sabendo que do lado de fora da plenária o mundo, e as ONGs, estão de olho neles, devem estar pensando o mesmo que o príncipe, pelo menos hoje.
Amanhã já será outro dia…

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