Capa da 4ª ed. de Glosas Sertanejas
OUTRAS
GLOSAS DO POETA LUIZ QUEZADO
Certa vez encontrava-se no seu Sítio Roncador,
quando recebeu este malcriado bilhete, enviado por seu primo Napoleão Quezado,
outro excelente poeta, com o qual gostava de brincar, trocando tal tipo de
correspondências:
O velho Luiz Quezado
Passa a vida pobremente,
Na boca não tem um dente,
Com que mastigue um bocado,
No “Roncador” isolado,
Sem recurso e sem dinheiro,
Comeu o pai do terreiro,
Só lhe resta uma galinha,
Dos possuídos que tinha,
Só ficou o “tabaqueiro”.
Ao receber o bilhete, o poeta Luiz Quezado, à
queima-roupa, mandou a seguinte resposta:
O velho Luiz Quezado
Não passa a vida pobremente,
Tem, além do “Tabaqueiro”,
Uma cabrita melada,
Muita cana replantada,
O burro “Peitica”, um carneiro
E, ainda prisioneiro,
Um macaco na corrente,
Algum feijão de semente,
Muito milho empaiolado;
O velho Luiz Quezada
Não passa a vida pobremente.
SAUDAÇÃO
AO RECÉM-CHEGADO VIGÁRIO DA PARÓQUIA
Ó Senhor, não batei palmas
Por um pastor te chegado.
Eu sou o pastor do gado,
Vós sois o pastor das almas.
Vós viveis com todas calmas,
Eu vivo com lutadores,
Vós viveis entre os doutores
Instruindo e dando exemplo,
Eu no campo vós no templo,
Nós ambos somos pastores.”
APRESENTAÇÃO DO NEGRO BALIZA
- Este é
o negro Baliza,
Que mora
ali, no Besouro;
Tem tanta
morte no couro,
Que só
botão na camisa;
Para
matar não alisa;
Tem
sangue de cangaceiro;
É feroz e
traiçoeiro;
Sabe
roubar por estudo;
Duma vez
só, rouba tudo:
Honra,
existência e dinheiro!
NEM TODO
PAU DÁ ESTEIO
Nem todo
pássaro voa,
Nem todo
inseto é besouro
Nem todo
judeu é mouro, '
Nem todo
pau dá canoa;
Nem toda
notícia é boa,
Nem tudo
que vejo eu creio,
Nem todos
zelam o alheio,
Nem toda
medida é reta, _
Nem todo
homem é poeta,
Nem todo
pau dá esteio.
Nem toda
água é corrente.
Nem todo
adoçado é mel,
Nem tudo
que amarga é fel.
Nem todo
dia é sol quente;
Nem todo
cabra é valente.
Nem toda
roda tem veio,
Nem todo
matuto é feio,
Nem todo
mato é floresta,
Nem todo
bonito presta,
Nem todo
pau dá esteio.
Nem todo
pau dá resina,
Nem toda
quentura é fogo,
Nem todo
brinquedo é jôgo,
Nem toda
vaca é leiteira;
Nem toda
moça é faceira.
Nem todo
golpe é em cheio,
Nem todos
livros eu leio,
Nem todo
trilho é estrada,
Nem toda
gente me agrada.
Nem todo
pau dá esteio,
Nem todo
estrondo é trovão.
Nem todo
vivente fala,
Nem tudo
que fura é bala.
Nem todo
rico é barão;
Nem todo azedo
é limão,
Nem todos
pagam "bloqueio",
Nem todas
as noites ceio,
Nem todo
vinho é de uva,
Nem toda
nuvem traz chuva,
Nem todo
pau dá esteio.
Nem todo preto
é carvão,
Nem todo
azul é anil,
Nem toda
terra é Brasil,
Nem toda
gente é cristão;
Nem todo
índio é pagão,
Nem toda
agência é Correio.
Nem toda
viaje é passeio,
Nem todos
prezam bom nome,
Nem toda
fruta se come,
Nem todo
pau dá esteio.
Nem todo
lente é sabido,
Nem tudo
que é branco é leite,
Nem todo
óleo é azeite,
Nem todo
rôgo é ouvido,
Nem todo
pleito é vencido,
Nem todos
vão ao sorteio,
Nem todo
sitio é recreio,
Nem toda
massa é de trigo,
Nem todo
amigo é amigo,
Nem todo
pau dá esteio.
UM BEIJO
EM MULHER MEDROSA
Um beijo
em mulher medrosa,
Dado
escondido, às escuras,
É a maior
das venturas
Que a
alma do homem goza.
O beijo
que é concedido,
Com
liberdade e franqueza,
Parece
uma sobremesa,
Depois de
um jantar sortido.
Não deve
o beijo ser dado
Com
franca condescendência,
Mas
sempre com resistência
Para
poder ser furtado.
Convém
que o beijo se tome
Depois de
renhida luta,
como se
fôsse uma fruta
Comida
por quem tem fome...
Mas o
beijo, a qualquer hora,
Que mais
provoca o desejo
E quando
a dona do beijo
Suspira,
soluça e chora.
Porém o
maior sabor
É quando
a mulher nos nega,
Porque
então a gente pega
E beija
seja onde fôr!!!...
fontes:
- Acorda
Cordel
- Um
olhar sobre São João do Rio do Peixe
Fonte: http://cajazeirasdeamor.blogspot.com.br/
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