terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Atenção pais


BRINCADEIRA DE CRIANÇA OU DESCASO DA FAMILIA?
Joaquim Onésimo Ferreira Barbosa

Os atos de violência cometidos por adolescentes, e também por adultos, contra jovens, homossexuais ou não, revelam uma faceta camuflada e mal explicada de nossas famílias: pais não conhecem os filhos que criam. Na verdade, os pais não sabem como e para que criam os filhos. A mãe de um dos adolescentes, provavelmente o que agrediu gratuitamente o estudante de jornalismo Luís Alberto Betonio, de 23 anos, em São Paulo, disse que se tratava de brincadeira de adolescentes. Para ela nada grave. Talvez para ela, agredir quem quer que seja, de forma gratuita nas ruas, é brincadeira. Merece afagos. Não punição. Para ela, desferir socos e pontapés, usar lâmpadas para ferir pessoas que circulam nas ruas é algo banal. Talvez por isso o filho dessa senhora cometa atos crueis pelas ruas de São Paulo. O limite entre violência e brincadeira não é estabelecido na casa do jovem que agrediu, não apenas o estudante de jornalismo, mas tantos outros que o reconheceram e apontaram-no como seu possível agressor. Em reportagem ao G1, de ontem, dia 06, o jovem agressor diz estar arrependido e quer uma nova chance. Chance tudo mundo merece. Chance é cabível para todos. E o adolescente que cometeu barbaridades nas ruas paulistas também merece uma chance. Merece uma chance para viver num mundo civilizado. Merece uma chance, desde que a sua família reveja o seu conceito sobre brincadeira e agressão. Os pais desse adolescente deveriam passar por acompanhamento. Talvez eles precisem muito mais do que o próprio filho. Se não sabem estabelecer limites entre violência e brincadeira, não saberão estabelecer limites sobre a vida do filho que colocaram no mundo. Tanto não sabem que deixam um adolescente sair sozinho, para agredir quem ele encontre pelo caminho. O Estatuto da Criança e do Adolescente pune os pais que educam os filhos, quando lhe corrigem, mas não observa os pais que deixam os filhos menores de idade ficarem nas ruas até de madrugada cometendo atos bárbaros, como tantos que ocorrem neste País. Dar chance não significa encobrir atos crueis como os que o adolescente praticou. Dar chance é colocar responsabilidades. Dada a chance que o adolescente diz merecer, qual será o seu dever na sociedade? Qual será o dever dos seus pais? O que lhe será cobrado?

Nossos adolescentes precisam de limites. Eles mesmos, muitas vezes, se perguntados, aplicariam penalidades muito mais duras do que os adultos lhes aplicam. Trabalhei 15 anos com adolescentes e conheço-os muito bem. Sei que adolescente gosta que lhe seja dada responsabilidade. Ele gosta de ser reconhecido pela sua capacidade. Quando fica ocioso, começa a buscar meios de chamar a atenção dos outros. Talvez seja isso que tenha acontecido com o jovem agressor de São Paulo. Muitas famílias acham que dando o material para os filhos estarão cumprindo com o seu papel. Não. Educar não é isso. Saber criar filhos vai muito além do material. Filhos precisam de cuidado. E cuidado passa por orientação que envolve o psicológico, o ético, o moral. Filhos precisam saber discernir qual é o limite do direito e do dever. Filhos precisam aprender em casa os modos de boa convivência. A ausência disso em casa leva os filhos a cometerem atos como o que se percebeu em São Paulo. Muitos pais acham que preceitos morais e éticos são aprendidos na escola. E deixam para os professores a tarefa de ensinar os adolescentes e jovens a como se portar na sociedade. No entanto, de nada valerá os conselhos, as orientações dos professores, se a família, o centro principal do adolescente e jovem, não observa aquilo que eles aprendem na escola. Em muitos casos, quando os professores tentam orientar o jovem, acabam sendo agredidos, como aconteceu com o professor de uma escola no Paraná que foi agredido a cadeirada por uma aluna. Esse é o reflexo de quando a família não estabelece o limite do respeito para os filhos. Lembro-me de um texto, se não me engano de Luiz Fernando Veríssimo, que diz que os pais nos ensinam tudo errado quando pequenos, que temos que ir para a escola aprender o que é o correto. Lembro-me, também, das reuniões de pais e mestres de um colégio de religiosas em que trabalhei no inicio de minha carreira como professor, em que se discutia com os pais dos alunos com desempenho ruim como estava sendo o cuidado desses pais para com os filhos. E o que víamos eram discussões entre os pais. Um jogando a responsabilidade para o outro. A reunião entre pais acabava sendo uma verdadeira lavagem de roupa suja, mas dava resultados porque os pais saiam da escola sabendo que precisavam cuidar dos seus filhos. E, no final do ano, percebia-se o resultado. Os alunos considerados com desempenho ruim se superavam quando os pais assumiam a sua responsabilidade em casa. Lembro-me também de um pai que, todos os dias, ia a escola ver se seus dois filhos, um menino e uma menina, estavam em sala de aula. Certo dia, disse a ele que não precisava fazer aquilo todos os dias, pois eles já eram jovens e tinham que aprender sozinhos a ter responsabilidade. E ele me disse: Não, professor, enquanto eles estiverem sob a minha responsabilidade e menores de idade, terão que fazer o que eu mando e viver conforme as regras da minha casa. Eu via a atitude daquele pai como um exemplo raro hoje. Passados alguns anos, andando pela rua, tive o privilégio de encontrar um dos ex-alunos e fiquei sabendo que estava recém formado em Direito e a jovem estava fazendo medicina. Aqueles meninos nunca deram problemas na escola. Eram exemplos para os outros. É esse o reflexo de quando a família toma para a si a responsabilidade sobre seus filhos. O contrário disso ocorre o que se viu com os jovens de São Paulo, que saíram as ruas para agredir pessoas de bem. Os pais precisam aprender a educar os filhos. Educar não é dar o material. Educar é dar aquilo que os olhos não vêem.

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